A presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Ana Arraes, pediu à Polícia Federal que investigue o auditor do órgão que repassou ao presidente Jair Bolsonaro um relatório falso com informações distorcidas sobre o número de mortes pela Covid-19 no Brasil.Arraes enviou ofício ao diretor-geral da PF, delegado Paulo Maiurino, solicitando que este abra um "inquérito policial para apurar eventuais ilícitos penais praticados pelo auditor federal de controle externo Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques".A presidente do órgão já havia determinado abertura de processo disciplinar e afastamento do auditor, autor da análise que levou o presidente Jair Bolsonaro a sugerir, mais uma vez sem provas, uma supernotificação de óbitos pela pandemia no Brasil.No dia 7 de junho, Bolsonaro deu uma declaração a pessoas que o esperavam na saída do Palácio da Alvorada dizendo que o TCU tinhaum relatório afirmando que "50% dos óbitos por Covid não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União".No dia anterior, o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques havia incluído no sistema documento não oficial com os dados distorcidos. Ele compartilhou o documento com colegas. Segundo informações encaminhadas à corregedoria do tribunal, o auditor relatou que comentou o teor de suas opiniões com o pai, Ricardo Silva Marques.Militar, amigo de Bolsonaro e gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, ele teria encaminhado ao presidente, segundo o servidor do TCU disse a seus chefes.O auditor Alexandre Marques foi indicado para a diretoria de compliance do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em 2019, mas acabou barrado para o órgão pelo próprio tribunal.Integrantes do TCU dizem que filhos do presidente Bolsonaro, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), estariam por trás dessa indicação à época. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) disse desconhecer o auditor.O TCU desmentiu a declaração de Bolsonaro. O órgão disse, em nota, que não elaborou o documento. O tribunal instaurou "procedimento interno para apurar se houve alguma inadequação de conduta funcional no caso". Segundo o TCU, o documento era uma análise pessoal de um servidor, que havia sido compartilhada para discussão e não integrava processos oficiais.