Nomeado presidente da Agência de Tecnologia da Informação (ATI) no dia 25 de julho deste ano, o professor George Brito é alvo de acusações, documentadas ao Ministério Público, de usar veículo oficial do órgão e requisição de passagens aéreas para fins pessoais e de terceirizar a gestão da pasta e condução do veículo para pessoas estranhas à repartição por não possuírem vínculo com o Estado.As informações fazem parte de um protocolo feito de forma anônima no Ministério Público do Tocantins na segunda-feira, 8, e que circulou nas redes sociais nesta terça-feira. O material pode ser consultado neste link.Segundo a documentação acolhida pelo Ministério Público, um dia após ser nomeado, o presidente retirou o carro Kia Cerato, executivo. Na mesma data transferiu a condução do carro, por uma autorização dada a Antonio Neto Cardoso Marques, apontado como pessoa sem vínculo com o serviço público estadual. O JTo encontrou vínculo do empresário com um cadastro na Receita Federal como empresa individual desde 2016, com um lava jato em Taquaralto, e também com atividade de táxi, comércio varejista de material de construção.O veículo teria sido usado para levar o presidente a Augustinópolis, no Bico do Papagaio, no dia seguinte para o 11º Congresso Estadual de Profissionais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-TO), um evento privado, sem participação do estado e sem representação da ATI.Ao presidente, também é imputado a compra de uma passagem de São Luís para Palmas, no dia 5 de agosto, para reunião com o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) antes da convenção partidária.A viagem de Brito ao Maranhão era uma agenda particular para participar do Colégio de Presidentes dos conselhos regionais e federais da área. Brito ficaria entre 3 e 6 de agosto. Após a convocação do Palácio, ele usou uma passagem aérea do governo. Custou aos cofres públicos R$ 2.899,44, entre tarifas e taxas do voo na Gol.Gestão seria terceirizadaNa ausência do presidente quem comandaria a agência, conforme a denúncia, é a pessoa de Igor Costa Pereira. O JTo checou que o empresário está ligado ao Lajeado Esporte Clube e é ex-presidente da União Tocantinense dos Estudantes Secundaristas, associação inativada na Receita Federal. Ao empresário é imputado o uso de login e senha do presidente para acessar o sistema de gerenciamento documental e assinar como se fosse George Brito. Segundo o relato, cabe a Igor cobrar posicionamento dos servidores, superintendentes e diretores, marcar reuniões e despachar.Um documento manuscrito com a memória de uma reunião nesta segunda-feira, 8, mostra Igor citando pressão do Palácio Araguaia sobre uma comissão do órgão para a agilizar a renovação de um contrato."O sr Igor expõe que o Palácio/Governo espera a conclusão com a maior brevidade, delimitando prazo", diz o texto. Em outro trecho, a ata revela que após deixar a reunião, Igor retoma o encontro, demonstra conhecer o processo e sugere medidas para a comissão acelerar os trabalhos e "destravar" o processo.A Comissão é de investigação e foi criada em julho para apurar e emitir parecer sobre fatos relatados em um Relatório de Fiscalização da Controladoria Geral do Estado, de junho deste ano, sobre o contrato de implantação e suporte da plataforma Target (gestão de planejamento) assinado com a Facilit, em 2021, no valor de R$ 5,1 milhões.Ministério Público acata documentação e converte em processo extrajudicialOuvidor do Ministério Público, o procurador Marcos Luciano Bignotti converteu o relato dos servidores anônimos em "notícia de fato", um processo extrajudicial do órgão, nesta terça-feira.Bignotti determinou a distribuição do caso para uma promotoria com competência para apurar improbidade administrativa.PCdoB descarta indicação ao cargoEm nota, a direção executiva do PCdoB afirma que a indicação do presidente para o governo estadual não tem “qualquer relação com o partido”. Brito é membro da Comissão Política e do Pleno do partido no Tocantins, mas, segundo o partido, ele pediu afastamento da direção e das atividades partidárias antes de assumir o cargo.“O PcdoB-TO reforça seu compromisso com a responsabilidade pelo bem público e com a presunção de inocência conforme o disposto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal de 1988”, afirma a nota.George nega irregularidades e diz que se afastará do cargoO JTO fez uma série de questionamentos ao governo sobre a relação de Antonio Neto e Igor Pereira com a agência e seu presidente e pediu também fundamentação para a transferência de responsabilidades aos dois. Não houve respostas.Em nota, George Brito nega ter “cometido qualquer ato ilegal no exercício do cargo para o qual foi nomeado no último dia 25 de julho”. Brito afirma não ter recebido uma notificação do Ministério Público sobre a investigação, mas caso “venha a ser notificado pelos órgãos de controle estaduais” irá prestar “todos os esclarecimentos” às autoridades.Em terceira pessoa, ele afirma que “de forma preventiva, e para fazer a sua defesa de forma isenta, dentro do estado democrático de direito, o presidente decidiu pedir afastamento do cargo até que todos os esclarecimentos sejam prestados às autoridades''.O JTO não conseguiu contato com os empresários Igor Pereira e Antonio Neto nos telefones a eles vinculados pela Receita Federal. Caso haja manifestação, a matéria será atualizada.