Após a aposentadoria de Dodanin Piken Krahô da Coordenação Técnica Local na Fundação Nacional do Índio (Funai) de Itacajá, o Povo Krahô temia que o governo federal nomeasse para o cargo uma pessoa estranha à comunidade. O temor se concretizou no dia 9 de novembro, quando a Funai publicou a Portaria n. 1.182, nomeando um militar, o policial aposentado como 2º tenente da PM do Tocantins, Antônio Ferreira de Castro. Os indígenas reagiram com uma representação no Ministério Público Federal (MPF). A manifestação levou o procurador Álvaro Manzano a entrar com uma ação na quarta-feira, 18, para suspender a nomeação do militar.
 
Conforme a ação, os indígenas temem ainda mais impacto nas ações voltadas às aldeias, incluindo o combate à Covid-19. Para as comunidades, o sucesso das ações nas comunidades depende, mais do que nunca, da experiência dos gestores públicos, a exemplo do coordenador local. Eles defendem que há especificidades da comunidade e, também, afinidade de articulação o povo Krahô e um "coordenador imposto" não tem esse perfil.
 
Para o procurador Manzano, a nomeação contraria totalmente a política indigenista brasileira estabelecida na Constituição Federal, afronta o Decreto n. 9.727, de 15 de março de 2019 e também a Convenção n. 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Segundo ele, as normas fixam que é preciso haver o consentimento dos indígenas e o perfil profissional e a formação acadêmica deve ser compatível com o cargo.
 
Natural de Goiatins, onde passou a residir após deixar a ativa da PM do Tocantins, Antônio Ferreira tem 53 anos. Ele disse ao JTo não ter conhecimento do movimento e da ação para suspender sua nomeação e que havia desistido do cargo no dia seguinte à nomeação. "Eu informei à coordenação regional (da Funai) que não tinha mais interesse no cargo".