O líder do governo na Câmara dos Deputados, Vitor Hugo (PSL), diz que a possibilidade de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prosperar na Casa “hoje é próxima de zero.” A fala foi feita em entrevista ao POPULAR nesta sexta-feira (22), quando questionado sobre as denúncias relativas à possível interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal (PF).A entrevista foi feita minutos antes de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello derrubar o sigilo sobre o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril citada pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro como evidência de que Bolsonaro queria fazer trocas na PF por motivos pessoais. Transcrição de parte da reunião já era pública, devido à manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) entregue na semana passada ao STF, que investiga o caso.Outras partes já haviam vazado para a imprensa, como a em que Bolsonaro diz que não vai “esperar f** a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa.” E continua: “Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.”Para Vitor Hugo, a denúncia de Sérgio Moro é frágil. “A gente torce aquele depoimento (de Moro à Polícia Federal) e não sai nada de relevante que incrimine ou coloque o presidente em xeque de maneira alguma. A interferência não ocorreu e mesmo aquilo a que o presidente se referia era em relação à segurança de sua família. Ficou claro isso. Ainda assim, o que o presidente queria fazer em torno de mudança, de nomeação de (Alexandre) Ramagem (à diretoria-geral da PF) está dentro da competência da lei.”De acordo com o deputado, “não existe viabilidade política ou jurídica” para o impeachment acontecer. Há 35 pedidos de impedimento do presidente protocolados na Câmara dos Deputados. “Os partidos de esquerda querem criar uma narrativa muito mais para alimentar a militância deles do que efetivamente possibilitar qualquer avanço nesse sentido. Acho até que nem serão abertos. O presidente tem a popularidade acima de 30%”, relata.Deputado de primeiro mandato, Vitor Hugo foi escolhido líder do governo sob desconfiança, visto que não tinha experiência política. Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), atuava como consultor legislativo na Câmara desde 2014.Questionado se acumulou experiência suficiente para articular a rejeição de um possível pedido de abertura de impedimento contra Bolsonaro, ele diz que não consegue avaliar. “Acumulei experiência para um deputado de primeiro mandato. Agora, caso a situação acontecesse (processo de impeachment), ela seria mais um teste. Não consigo avaliar se estaria em condições de enfrentar um impeachment ou não.”O deputado ainda ressalta: “A gente viu líderes de outros governos, como o de Dilma (Rousseff), que tinha muitos mandatos (o líder era o deputado José Guimarães, do PT do Ceará, e estava no terceiro mandato à época), mas não conseguiu impedir (o impeachment).” LIDERANÇADevido à aproximação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os partidos do chamado Centrão, há pressão para que a liderança do governo na Câmara seja ocupada por um deputado dessas siglas. Nos bastidores, segundo afirmaram deputados ao POPULAR, o nome defendido pelo grupo é o de Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro no governo de Michel Temer (MDB).Sobre isso, Vitor Hugo diz que sempre há pressão por posições de proeminência nacional, “em especial quando o xadrez político se movimenta.” “Conversei com o presidente da República ontem (quinta-feira, 21) e ele falou que não é intenção dele, nesse momento, trocar a liderança, mas entendo que a política é dinâmica. A formação da base, efetivamente, vai modificar todo o relacionamento do Legislativo com o Executivo, e estou à disposição para cumprir qualquer missão formal ou informal.”Segundo o deputado, caso deixe a posição, deve se dedicar mais a seu mandato. “A liderança tem me tirado muito de Goiás. Temos temas muito relevantes aqui para discutir e, em uma eventual saída, que não foi sinalizada, para mim, seria o momento de voltar minhas atenções para o mandato e gostaria também de me dedicar aos temas regionais de Goiás.” Contudo, nega ter vontade de deixar a posição. CENTRÃOBolsonaro se aproximou dos partidos do chamado Centrão nas últimas semanas, em parte para compor uma base maior na Câmara, visando barrar um possível processo de impeachment, e contrariando posições anteriores suas, por exemplo, quando criticou o grupo na campanha eleitoral de 2018, por ter membros envolvidos em esquemas de corrupção, como o Mensalão, e alvos de operações como a Lava Jato. Bolsonaro foi eleito fazendo pesadas críticas a esses partidos.A respeito de o presidente se aproximar de partidos que criticou durante a campanha e de promover “toma lá, da cá” cedendo cargos em troca de apoio político – o Centrão já indicou ao menos dois nomes para posições de gestão no governo –, Vitor Hugo evitou comentar a contradição dizendo que “a indicação política, por si só, não é um problema, desde que o indicado seja uma pessoa idônea e preparada para o cargo.”Sobre as críticas feitas por Bolsonaro aos partidos do Centrão, o deputado aponta que a “crítica não é pessoal.” “Quem reelegeu ou elegeu todo mundo que está no Parlamento hoje foi a população brasileira. Eu gostaria muito que os 57 milhões de votos que elegeram o presidente Bolsonaro se refletissem em mais de 50% dos deputados federais.”Ele relata que “gostaria de ter 257 deputados do PSL como uma base orgânica naquele momento (pós-eleições de 2018), mas, infelizmente, a mesma população que elegeu Bolsonaro elegeu deputados e senadores que compõem hoje o Parlamento.” “No jogo político, o presidente joga um xadrez, mas quem colocou as peças nesse tabuleiro foi a mesma população que o elegeu.”