O Ministério Público Eleitoral quer a adesão de partidos políticos a um termo de "boas práticas". A discussão envolve se comprometer com regras de compliance, cota feminina nos cargos de direção das siglas e contratação de pessoas com deficiência, temas ausentes na legislação em vigor. As conversas estão mais adiantadas com MDB, PSL e Podemos, mas, segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, há resistências de legendas.Um dos receios das siglas é de que a adesão ao acordo se assemelhe a um termo de ajustamento de conduta, que é uma espécie de acerto fechado pelo Ministério Público para corrigir irregularidades. Dirigentes partidários temem virar alvo de eventuais ações por improbidade administrativa caso não consigam cumpri-lo.A iniciativa é considerada uma das prioridades da reta final do mandato da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que já se colocou à disposição do presidente Jair Bolsonaro para ser reconduzida ao cargo por mais dois anos.O objetivo do termo é adotar medidas de transparência e maior democracia interna nos partidos, consideradas "zonas cinzentas" nas regras atuais. A lei, por exemplo, prevê uma cota mínima de 30% de candidaturas femininas nas eleições, mas não há menção à composição dos quadros internos das próprias agremiações.O diretor executivo do movimento Transparência Partidária, Marcelo Issa, considerou a iniciativa positiva, mas se disse cético quanto ao sucesso do acordo. "Os partidos já têm grande dificuldade hoje para cumprir o básico determinado pela legislação", afirmou Issa.É o caso da obrigação para que as legendas apliquem no mínimo 5% dos recursos do Fundo Partidário (caixa das siglas abastecido com dinheiro público) na participação feminina na política. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) endureceu a pena imposta aos partidos que não cumprirem a regra.Em maio, no entanto, Bolsonaro sancionou uma lei que anistia as multas aplicadas às legendas que desobedecerem à determinação. A estimativa é de que esse perdão possa alcançar R$ 70 milhões, valor dos débitos dos diretórios municipais de quase todas as legendas com o Fisco.Só no ano passado, foram R$ 780,4 milhões em dinheiro público destinado aos partidos via Fundo Partidário.ImagemPara o presidente do MDB, o ex-senador Romero Jucá (RR), um dos que já iniciaram tratativas com o Ministério Público Eleitoral, o acordo pode ser positivo para melhorar a imagem dos partidos. "Acho que esses procedimentos (propostos pelo MPE) são importantes para desmistificar qualquer pensamento de irregularidade. O ônus da prova se inverteu - agora você tem de provar que você é certo", afirmou Jucá.Na avaliação da presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), as siglas passam por uma crise de representatividade, o que as obriga a "olhar para dentro". "Somos cidadãos do século 21 lidando com instituições políticas concebidas no século 18", disse Renata.A advogada do PSL, partido de Bolsonaro, Karina Kufa, afirmou que "as boas práticas partidárias devem ser regra".