A greve geral convocada para ontem pelas centrais sindicais para protestar principalmente contra os projetos de reforma trabalhista e da Previdência, afetou a rotina de cidades em todos os Estados. Com a adesão dos trabalhadores do setor de transportes, as ruas, principalmente das grandes cidades, ficaram vazias. Em São Paulo, os índices de congestionamento ficaram bem abaixo da média.

As avaliações sobre o movimento eram divergentes. Mas, para boa parte dos analistas, o impacto na aprovação das reformas em tramitação no Congresso não deve ser muito forte. Para a consultoria Eurasia, que prevê que tanto a reforma trabalhista quanto a previdenciária sejam aprovadas até julho, as manifestações foram menores do que o esperado. A avaliação é que novos protestos poderão ocorrer nas próximas semanas, mas não devem paralisar o Congresso.

O governo fez questão de afirmar, desde o início do dia, que a greve tinha adesão menor do que a esperada. A avaliação era de que as manifestações ficaram concentradas nos grandes centros urbanos. As centrais sindicais, porém, asseguram que essa foi a maior greve já registrada no País.

Análises

Para uma parcela dos observadores, os piquetes pontuais em ruas vazias deixaram a impressão de que a maioria das pessoas não foi trabalhar por pura falta de opção para se locomover ou medo de represália, já que na véspera se espalhou a informação de que manifestantes iriam interditar avenidas de grandes cidades e rodovias.

Nesse caso, o movimento estaria restrito a ação organizada de alguns sindicatos, corporações, grupos estudantis. Teria faltado a adesão espontânea da população, como se viu nos protestos contrários ao aumento da passagem do transporte público, em 2013, e em favor do impeachment, no ano passado.

“Não poderia haver silêncio nas ruas porque essa greve teve uma natureza diferente das greves por salários, como a dos metalúrgicos”, diz o pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper e colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, tem a análise oposta “Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários, motoristas de ônibus ou professores, deram um sinal de força”, diz ele. Como essas são as categorias com capacidade de articulação e pressão política, avalia Melo, a greve tende a ecoar negativamente sobre a votação das reformas, em especial da reforma da Previdência, que sofre mais resistência.

“Deputados que já criavam problemas para o governo, com medo de votar, percebem que as corporações estão organizadas. Na base, elas podem pressioná-lo ainda mais: colocar a foto, o nome e o voto dele em cartazes. Há, agora, um argumento a mais: o povo é contra as reformas”.

Confrontos

Os protestos contra as reformas previdenciária e trabalhista ganharam tons de confronto, com atos de vandalismo, no início da noite. Em São Paulo, a manifestação teve início no Largo da Batata, na região de Pinheiros. De lá, os manifestantes seguiram em passeata até a casa do presidente Michel Temer, no Alto de Pinheiros, onde uma barreira policial estava montada. No centro do Rio, houve um grande conflito entre manifestantes e a polícia.

Perto da casa de Temer, grevistas atearam fogo em um canteiro, gritando palavras de ordem. Os manifestantes estavam armados com pedras e pedaços de pau. Para dispersar a manifestação, a PM utilizou jatos de água, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

No Rio, um confronto de grandes proporções entre policiais e manifestantes mascarados na Cinelândia marcou o fim da greve. As confusões começaram após as 16h, perto da Assembleia Legislativa, se espalharam pelas vias próximas, chegaram às Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas e se prolongaram em outros pontos até à noite. Pelo menos nove ônibus, segundo a Rio-ônibus, foram incendiados, além de uma picape.