O senador tocantinense Eduardo Gomes (PL), líder do governo Bolsonaro no Congresso e licenciado para a campanha eleitoral fez pedidos de depósitos bancários a um empresário agora investigado pela Polícia Federal e em troca prometeu ajuda para adiar uma portaria do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) que poderia prejudicar os negócios de Jorge Rodrigues Alves, alvo da Operação Lavanderia.

As mensagens aparecem em reportagem publicada nesta quinta-feira, 28, pelo jornal O Globo. O jornal aponta que os diálogos de Gomes e Alves, estavam no celular do empresário, que atua nos setores de construção civil e iluminação, apreendido durante ação policial que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro e fraudes em licitações no Tocantins.

De acordo com o jornal, após analisar as mensagens, com comprovantes de depósitos a pessoas indicadas pelo senador, a Polícia Federal enviou um relatório sigiloso à 4ª Vara Federal no Tocantins no dia 11 de julho pedindo a remessa do caso para o Supremo Tribunal Federal (STF). Gomes tem foro privilegiado na Corte. Segundo o Globo, investigadores afirmaram que as diversas conversas entre os dois indicam que o empresário "aparentemente paga contas para o senador e lhe envia dinheiro, assim como lhe pede favores e intercessão em assuntos de suas empresas”.

Conforme a matéria, um dos pedidos ocorreu dia 31 de janeiro de 2019, na véspera da posse no Senado. Gomes pediu um repasse “para custear o buffet de uma festa”. Alves perguntou: “Como seria? Direto no buffet? Quanto? Estamos juntos, amigo”. Gomes, então, forneceu os dados bancários de uma mulher para a efetivação do pagamento, revela o jornal.

No dia 11 de junho de 2019, segundo O Globo, o senador apresentou ao empresário uma lista de favorecidos para pagamentos e cobrou a comprovação dos repasses. O empresário enviou comprovantes de transferências bancárias para cinco pessoas e empresas no total de R$ 42.255.

No dia 3 de abril de 2020, o senador enviou ao empresário os dados bancários de um assessor parlamentar, João Bosco Pinto da Silva, com o pedido de pagamento em conta indicada. “Acha que consegue 20?”, perguntou o senador. O empresário respondeu: “Opa! Certeza!”.

O jornal publicou ainda outro diálogo durante a campanha eleitoral de 2018. O senador pediu pagamentos para despesas com carros. “Tenho que passar 70 mil para uma locadora que pode dar nota que cuida de todos os veículos que estão na campanha”, escreveu o parlamentar dois meses antes das eleições, segundo o jornal. O empresário redarguiu: “Tem q ser hje (hoje) ou eles emitem a NF (nota fiscal) e dão uns dias p pgto (pagamento)?”. De acordo com o jornal, o senador respondeu: “Emite e eu preciso de 30 para comer até domingo”. Em seguida, o empresário brincou: “Uai, tá comendo muiiiito amigo rs (risos)”.

Conforme o jornal, ao todo, segundo as mensagens, os pedidos de dinheiro feitos por Gomes somaram cerca de R$ 760 mil de 2016 a 2020

 

Intercessão no Inmetro

O jornal afirma que as conversas indicam que após assumir o cargo, em abril de 2019, o senador agiu para adiar a entrada em vigor de uma portaria do Inmetro que mudaria as especificações das luminárias usadas no sistema de iluminação pública no país.

De acordo com o jornal, as mensagens mostram o amigo do parlamentar preocupado com desclassificação da empresa na disputa por contrato público caso a portaria enteasse em vigor. O senador respondeu que tentaria interceder no Ministério da Economia, ao qual o Inmetro está subordinado diretamente com Carlos da Costa, então secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade da pasta.

Três dias depois, prossegue o jornal, nova conversa do empresário e do senador, o amigo de Gomes enviou novo documento sobre a portaria do Inmetro e Gomes disse que poderia agir para demitir a então presidente do Inmetro, Angela Flôres Furtado, se o órgão não o atendesse. “Vou ler aqui e montar uma estratégia. Em último caso, a gente questiona via comissão de Infraestrutura. Se houver motivação de espírito público a gente até derruba essa mulher”, descreve o jornal.

Em mensagens trocadas no dia 26 de junho em 2019, segundo o Globo, o senador encaminhou a Alves um e-mail no qual a presidente do Inmetro informava ao seu gabinete que a vigência da portaria seria adiada em três meses. No dia seguinte, Gomes se reuniu com Angela Flôres Furtado, conforme a agenda pública do órgão. As novas regras foram postergadas e só passaram a valer em novembro de 2019.

Outro lado

Ao Globo, Gomes admitiu amizade com o empresário há 25 anos e negou irregularidades conforme nota publicada no jornal:

 “Jamais houve qualquer pagamento ou repasse ao senador Eduardo Gomes nos casos questionados. As mensagens trocadas são autoexplicativas: tratam-se de pedidos de empréstimos a um amigo, mas que não se efetivaram. Assim como não houve qualquer intermediação ou negócio irregular. No exercício do mandato, o senador somente dá seguimento a eventuais demandas quando estas são de interesse público, de forma transparente e responsável”.

Em nota da assessoria publicada no jornal, o empresário Jorge Rodrigues Alves disse que não comenta investigações que correm sob sigilo e Carlos da Costa não quis se pronunciar.

Em nota, o Inmetro afirmou ao Globo que adiou a vigência da portaria por ter constatado que não havia luminárias com certificação dentro dos parâmetros estabelecidos e poderia desabastecer o mercado.

Angela Flôres Furtado, ex-presidente do órgão, afirmou ao Globo que as decisões tomadas tiveram  como base critérios técnicos e refuta pressão por parte do senador Gomes.