O diretor interino do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Darcton Policarpo Damião, disse em entrevista ao jornal O Globo que o aquecimento global “não é a sua praia”.Darcton Policarpo Damião ocupará o lugar de Ricardo Osório Galvão, demitido na última sexta-feira (2).A declaração do oficial da Aeronáutica foi dada depois de ser questionado sobre se acreditava no aquecimento global, causado pela ação humana.“Não sou estudioso de temas globais. Sou um interessado. Existem várias opiniões contra e a favor. Leio e estudo. Não adianta emitir a minha opinião sobre isso. Seria o mesmo que emitir uma opinião sobre futebol no Brasil. Adoro futebol, mas não sou bom de bola, nunca joguei e dizer que é melhor ou pior com o Neymar, para mim, vai cair no vazio. Minha opinião não terá valor. Estudo o assunto, mas [aquecimento global] não é a minha praia. Não sou autoridade no assunto”, disse.No entanto, Damião disse que o assunto estará em sua pauta, já que vai dirigir 1 dos principais institutos de pesquisa do país.Em junho, durante visita ao Japão para participar da cúpula do G20, o presidente Jair Bolsonaro comentou com líderes europeus que existe uma “psicose ambientalista” com o Brasil.A reportagem do Globo, então, questionou Damião se ele concordava com o pensamento de Bolsonaro, ao qual respondeu: “Existe o que em inglês se chama de ‘awareness’. Um estado de alerta. Isso ficou cada vez maior na medida em que o mundo foi ficando mais complexo e as sociedades mais interligadas e que as pessoas entendem que o clima é global. De que não existe fronteiras para isso. Então, o nível de informação aumentou e isso gera expectativa nas outras nações. Existe 1 nível de alerta mais alto”.O diretor interino do Inpe também foi perguntado se acha justificável esse “nível de alerta mais alto”.“Não vou dizer se é justificável porque há vários pontos nesse espectro, mas certamente é natural. Essa é uma realidade e temos que lidar com ela. O Brasil, a Alemanha, a Índia, a China… todos temos que nos dar conta de que isso é uma realidade atual e que só vai recrudescer. Não adianta fingir que não tem 1 elefante na sala”, disse.NOVA GESTÃODamião afirmou que a linha de sua gestão no Inpe é “melhorar a comunicação”entre os órgãos aos quais o instituto é ligado.“Quando a gente trata de desmatamento, clima e meio ambiente global, não é uma questão simplesmente nacional. Envolve o concerto das nações e a Presidência. Porque são eles que vão ter que responder às pressões lá fora”, disse.O diretor interino também disse que não vê razão para deixar de usar o Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real).“Não vejo nenhuma razão para crer que ele vai deixar de existir. O Deter é diferente do Prodes [sistema de monitoramento da Amazônia que produz dados sobre o desmatamento de forma anual]. A questão é não usar ‘chave Phillips’ onde o que se tem é uma chave de fenda. Cada ferramenta no seu lugar”, disse.“O sistema de hoje é muito melhor que o de 20 anos atrás. E o que teremos em 20 anos será muito melhor que o que temos hoje. Uma imagem é uma representação da floresta. Nunca vamos ter a floresta refletida na escala 1 para 1. Agora, o que precisamos é o que nós temos. Não temos condições de querer mais porque já estamos trabalhando com o ‘estado da arte’”, acrescentou.