Foi gritando palavras de ordem contra o impeachment que os diversos movimentos sociais chegaram ontem à tarde ao lado esquerdo do Congresso Nacional, onde acompanharam a votação. E foi ao som de “não vai ter golpe; vai ter luta”, que eles se dispersaram ao final da noite, já começando a manhã de hoje. Houve muito choro e a descontração que marcou boa parte da manifestação deu lugar à sobriedade e tristeza. 

Não houve confusão. Logo que foi anunciado o voto que consagrou a aprovação do pedido de impeachment, do carro de som, o locutor incentivou o confronto: “vai ter porrada e vai começar agora”. A polícia, que estava em grande número na Esplanada, reagiu, dando alguns passos à frente. Mas ninguém avançou rumo ao muro, que dividia os dois grupos pró e contra o impeachment. Aos poucos, a área destinada aos que defendiam a presidente Dilma Rousseff foi se esvaziando e na rua o grupo caminhava prometendo luta, cercado por diversa viaturas da polícia. 

Ali, em frente ao Congresso, se reuniram dezenas de movimentos sociais de diversas regiões do País: movimentos sem-terra e sem teto, movimentos estudantis, sindicais, de mulheres e LGBT. Lucileide Mendes, do Movimento Sem-Terra Urbano (MSTU), veio de Uberlândia (MG) em uma caravana que reuniu 150 pessoas; Emerson Silveira, do Movimento dos Trabalhadores sem Teto, veio de Macapá (RR); a estudante Yasmin Layane, de Campo Azul (MG); Lidia Zientarski, funcionária pública ligada a CUT, veio de Chapecó (SC). 

Em meio ao vermelho predominante o laranja dos representantes da Federação Única dos Trabalhadores dos Petroleiros (FUP) se destacava. Segundo Francisco José de Oliveira, a entidade que reúne petroleiros de 14 sindicatos estava ali em defesa do pré-sal e da Petrobrás. “Não temos defendemos o governo, mas a soberania nacional; não representamos partidos, nossa farda é dos petroleiros. ” 

No momento da votação, o grupo se reuniu em frente ao telão para acompanhar os votos e reagia com vaia aos votos a favoráveis e comemoravam muito os contra. Em nenhum momento aqueles que defendiam a permanência da presidente se arrefeceram. 

O primeiro sinal de que o governo poderia ter perdido a disputa veio do carro de som. O locutor pediu para que, independentemente do resultado, as pessoas não se dispersassem. Antes de concluída a votação, mas com o resultado já definido, os lideres discursaram para um grupo cada vez menor. Havia frustração, tristeza e revolta nos rostos e discursos. Mas nas ruas, ao fim de tudo, eles prometeram lutar: e o “não vai ter golpe, vai ter luta voltou a ecoar nas ruas de Brasília”.