Ministros do Supremo Tribunal Federal e integrantes do Governo do Distrito Federal trabalham com a hipótese de o ataque simbólico de manifestantes contra a corte na noite de sábado (13) ter sido facilitado pela Polícia Militar em conluio com o Palácio do Planalto.

De tão séria, a conexão ainda está sendo tratada com o máximo de reserva. O Ministério Público Federal abriu uma investigação sigilosa sobre o ataque, nominalmente de autoria do grupo 300 do Brasil, que havia sido desalojado de seu acampamento na Esplanada dos Ministérios na manhã do sábado.

O grupo defende o govenro Jair Bolsonaro e prega intervenção militar contra o Supremo e o Congresso. Sua líder, Sara Winter, pseudônimo tirado de uma notória espiã britânica nazista, já disse que há armas entre os militantes.

Neste domingo, Bolsonaro não participou de atos antidemocráticos. Já seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, esteve na Esplanada no domingo pela manhã com manifestantes golpistas —sem máscara, contra a lei local, e contra o veto a atos naquele ponto, determinado sábado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).

Chamou a atenção de todos os observadores do episódio a inação policial durante a instalação dos fogos de artifício na praça dos Três Poderes, que foram lançados com impropérios em direção ao prédio do Supremo.

Segundo informações que chegaram ao Supremo, a falta de reação policial pode ter sido combinada com pessoas da área de inteligência do governo. A Folha procurou o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), responsável pelo setor, para comentar o caso, mas não houve resposta.

O governo do Distrito Federal agiu rapidamente e destituiu o subcomandante da PM, Luiz Ferreira de Souza, na tarde do domingo. Ele é o chefe efetivo da polícia, já que o comandante está se recuperando da Covid-19.

Um dos envolvidos na ação, Renan Silva Sena, foi preso também durante a tarde. Membros do governo distrital se dividem ao comentar o caso, dado que a relação entre a comunidade de inteligência federal e a PM local não é considerada por alguns como das mais azeitadas.

Seja como for, no Supremo a situação sugere uma degeneração. Se não foi conluio, tudo indica uma inação espontânea, que joga lenha na fogueira de temores de infiltração do bolsonarismo nas forças policiais.

Provocação não falta. No sábado, o filho presidencial Eduardo Bolsonaro, deputado pelo PSL-SP, visitou manifestantes do 300 do Brasil e postou em redes sociais críticas à ação da PM que retirou o acampamento da agremiação na Esplanada.

Já seu irmão Carlos, vereador pelo Republicanos do Rio, chamou o ministro Gilmar Mendes (STF) de "doente mental" por ter criticado a sugestão feita pelo presidente de invasão de hospitais para filmar supostos leitos vazios —ele acredita que governadores inflam dados da Covid-19 para prejudicá-lo.

A tensão institucional vem se acumulando nas últimas semanas. Na sexta (12), o presidente divulgou nota em que dizia que as Forças Armadas não respeitariam "ordens absurdas" ou "julgamentos políticos", uma referência indireta às decisões que contrariam Bolsonaro no Supremo e à ação que pede a cassação de sua chapa com Hamilton Mourão em 2018.

O vice-presidente, general da reserva, assinou a nota com o chefe e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Como a Folha mostrou, o tom intimidador causou repúdio no Supremo e entre militares da ativa.

A reação por ora é institucional. O presidente do Supremo, Dias Toffoli, respondeu por ora com uma nota acerca do ataque de sábado. Mas há poucas dúvidas, entre os togados, de que os eventos do fim de semana dificultaram o caminho para acomodações que se insinuavam nas últimas semanas com o Executivo.