A defesa do governador afastado do Tocantins Mauro Carlesse (PSL) interpôs um recurso (agravo regimental) para que a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decida sobre o pedido de revogação das medidas cautelares, incluindo o afastamento do cargo.Carlesse está afastado desde o dia 20 de outubro e apresentou um pedido de revogação do afastamento no final de novembro. O ministro Mauro Campbell negou no dia 17 de dezembro por entender que a defesa, em nenhum momento, conseguiu afastar os fundamentos usados por ele para a suspensão do exercício do cargo de governador e que seguia necessária a manutenção do afastamento de Carlesse.No agravo, a defesa alega que as acusações da Polícia Federal não possuem base empírica capaz de justificar a manutenção das medidas cautelares pessoais impostas a Carlesse, que inclui ainda a proibição de entrar em prédios públicos de manter contato com investigados, sócios e servidores públicos.Para a defesa não há qualquer indício sério de que os valores movimentados por Carlesse em 2021 teriam relação com o produto de supostos crimes ocorridos em 2018 e em 2019, como aponta PF, no inquérito que investiga cobrança de propina no Plansaúde, o que afasta a contemporaneidade dos fatos.A defesa alega que depósitos de R$ 510 mil feito por Carlesse em 1º de junho de 2018, e de R4 250 mil, no dia 26 de setembro de 2018, como apontou a PF, não seriam decorrentes de lavagem de dinheiro, mas de disponibilidade financeira própria acumulada em anos anteriores e devidamente declarada e teria sido usado na campanha eleitoral.A mesma justificativa a defesa dá para o depósito feito por KELITON DE SOUZA BARBOSA em 19 e 24 de setembro de 2018, em um total de R$ 450 mil, que seria para a campanha. O mesmo destino, afirma a defesa, é de R$ 345 mil depositados pela funcionária da empresa Máximus, ligada a Carlesse, Gabriela Almeida de Carvalho, entre 18 e 22 de junho de 2018, e que seria doação para a campanha.Para os 200 mil depositados pela secretária de Carlesse, Carina Teixeira Marinho Oliveira Rabelo, em 24 de março deste ano, de acordo com a defesa, longe de qualquer irregularidade, era recurso do próprio governador declarado à Receita.Para a defesa, estes valores depositados na conta bancária de Carlesse integravam valor disponível em espécie de titularidade do político e as movimentações apontadas pela PF e Ministério Público Federal (MPF) não “foram confrontadas com as informações prestadas à Receita Federal do Brasil, têm lastro e não consubstanciam etapa de fluxo criminoso”.A defesa também alega que a compra da fazenda no Jalapão seria apenas da empresa Maximus e não por Carlesse e que o recurso saiu da venda de gado de outra empresa, Maxpec, da qual a única sócia é a Máximus, para a Cooperativa dos Produtores Rurais de Carne e Derivados de Gurupi em fevereiro e março de 2021. Um extrato bancário inserido no agravo mostra TED (transferência de outro banco) da cooperativa para a Maxpec de R$ 3 milhões no dia 3 de fevereiro do ano passado, mais R$ 114,4 mil no dia 9 de fevereiro e R$ 671,1 mil dia 16 de março.A compra da fazenda teve o pagamento feito dia 31 de março, no valor de R$ 2.060.000,00 no por uma TED para Flavio Honorio de Oliveira. Para a defesa, a transação não permite “cogitar-se de lavagem de dinheiro, muito menos de lavagem de dinheiro no ano de 2021”.A defesa também afirma que não há vínculo entre a movimentação financeira de Carlesse com a cobrança de propina relacionada ao Plansaúde. Segundo a petição no pedido do MPF ao STJ, com 619 páginas, os investigadores não identificam nem apontam “um único dado capaz de estabelecer qualquer conexão entre as datas dos supostos pagamentos “repasses” ou “pedágios” realizados pelos prestadores de serviços de saúde (se é que tais pagamentos ocorreram) e os depósitos realizados na conta bancária” de Carlesse.De acordo com a defesa, os fatos e os documentos que apresentam ao STJ autorizam a corte especial a revogar das medidas cautelares pessoais, notadamente a suspensão do exercício do cargo público.Para a defesa, manter o governador afastado “implicará literalmente a cassação de seu mandato político”. A defesa também argumenta que só poderia manter o governador afastado se ficasse demonstrado que ele pudesse gerar obstáculos para as investigações e não há risco nesse sentido, conforme a defesa, porque as investigações duram dois anos e com vários procedimentos inquisitoriais em dois inquéritos e várias medidas cautelares inominadas.“Não se podendo falar, assim, de qualquer risco para as investigações e consequentemente para o regular funcionamento da estrutura administrativa estadual”, afirmam os advogados Nabor Bulhões e Carolina Abreu.O pedido é para a revogação das medidas ser apreciado pela Corte Especial e ser provido para Carlesse voltar a exercer o mandato de governador. A defesa também pede a revogação da proibição de contatar seus familiares e sócios atingidos pelas medidas impostas pelo STJ.