-Imagem (1.960401)Em dez horas de depoimento à Justiça Federal, Sebastião Rodrigues de Moura, 77 anos, o Major Curió, revelou que matou dois prisioneiros da Guerrilha do Araguaia no início da década de 70, durante o regime militar. Curió ainda indicou onde estão enterrados os corpos de dois militantes, até hoje não localizados pelos grupos de trabalho nas expedições que se iniciaram nos anos 90.A audiência em segredo de Justiça ocorreu na 1ª Vara Federal de Brasília, na última quarta-feira, sob comando da juíza Solange Salgado.Curió só apareceu à força, conduzido no camburão da Polícia Federal, após mandado de condução coercitiva expedido pela magistrada, ao não acolher um atestado médico, em razão da saúde debilitada, no tratamento contra uma doença.Com a presença de advogados e de familiares das vítimas, o depoimento foi longo, ocorreu entre 13h30 e 23h. Só tarde da noite o militar confessou os crimes, após ameaçado de prisão pela juíza, que confrontou informações passadas por ele não condizentes com os relatos oficiais.O militar, que era capitão à época, mas tido como o principal algoz da Guerrilha, confessou ter matado os guerrilheiros Antônio Theodoro Castro, codinome Raul, e Cilon Cunha Brun, o Simão. Revelou que à ocasião ordenou a um capataz enterrar os corpos e indicou à juíza a localização atual. No depoimento, Curió alegou que a dupla tentou fugir e foi abatida a tiros - ou seja, na sua tese, não houve execução. Curió também relatou que sempre cumpria ordens do superior Leo Frederico Cinelli, então tenente-coronel do Centro de Informações do Exército, o temido CIE. Cinelli é vivo e mora em Brasília.Embora o militar esteja amparado pela anistia, as revelações vão nortear várias decisões da Justiça a respeito das buscas de desaparecidos e desencadear mudanças editoriais nas obras já publicadas até agora.