A CPI da Covid não consegue contato com o lobista Marconny Albernaz de Faria, que deveria prestar depoimento nesta quinta-feira (2). A cúpula da comissão então acionou a polícia legislativa para que seja realizada a condução sob vara do depoente e, em caso de não o encontrarem, podem entrar na justiça para pedir sua prisão preventiva.Por causa da ausência de Marconny, a CPI decidiu realizar ainda nesta quinta-feira o depoimento do ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco de Araújo Filho, que recentemente foi preso acusado de corrupção.Ao chegar para a sessão, o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a polícia legislativa já foi acionada para colocar em prática a condução sob vara de Marconny, instrumento jurídico semelhante à condução coercitiva, mas que é prerrogativa de uma comissão parlamentar de inquérito. Segundo o senador, não é necessária autorização judicial."A direção da Comissão Parlamentar de Inquérito já determinou a condução sob vara. Nós estamos a partir de agora procurando a localização dele, em alguns endereços aqui de Brasília. Caso a gente não consiga localizá-lo para conduzi-lo ao depoimento ainda no dia de hoje, irei requisitar a prisão preventiva", afirmou o vice-presidente da comissão.Membros governistas da comissão, afirmando que se trata de uma ação ilegal e abuso de autoridade, uma vez que não houve autorização judicial determinando a condução sob vara.Por isso, em paralelo, a cúpula da CPI consultou a advocacia do Senado e enviou uma petição à ministro Carmen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), para reafirmar o direito da comissão a promover a condução sob vara. Em paralelo, vão ingressar com pedido de condução coercitiva de Marconny.Carmen Lúcia concedeu um habeas corpus ao lobista, garantindo seu direito ao silêncio durante o depoimento. No entanto, não permitiu sua ausência na oitiva.Randolfe também disse que vai encaminhar para a CPI um pedido de requisição para a justiça de 1ª instância de prisão preventiva, caso Marconny não seja localizado. Também afirmou que vai pedir a notificação da Interpol, pois desconfia que ele possa ter deixado o país."Se ele não for localizado, então ele passa a ser foragido e até em decorrência disso, por isso vamos pedir de imediato a prisão preventiva e a comunicação da Interpol para uma eventual evasão dele do território nacional ", afirmou Randolfe.Marconny é apontado como lobista da Precisa Medicamentos e de outras empresas. Ele aparece em diálogos tratando da venda de testes para detectar a Covid-19.O advogado de Marconny, William de Araújo Falcomer, que também não foi localizado pela CPI, auxiliou na abertura do registro da empresa de Jair Renan Bolsonaro, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, conforme revelou a Folha de S.Paulo nesta quarta-feira.A ajuda foi dada após Marconny solicitar ao advogado que recebesse o filho do presidente para ele o auxiliasse.As informações constam de conversas no WhatsApp obtidas pela Folha entre o lobista e Renan, após quebra judicial de sigilo do lobista a pedido do Ministério Público Federal do Pará, e de análise de documentos da Receita Federal.Os diálogos foram enviados à CPI pela Procuradoria, depois que os investigadores daquele estado, que apuravam a influência do lobista em uma indicação para órgão público, viram que Marconny havia sido citado nas negociações da Precisa Medicamentos.O telefone registrado no cadastro da Receita Federal como sendo da Bolsonaro Jr Eventos é o mesmo contato do escritório de William de Araújo Falcomer dos Santos. Nesta terça-feira (31), a Folha ligou para o local e a secretária confirmou que se tratava do escritório de William, mas que o advogado estava em viagem.Ele não respondeu os contatos feitos pela Folha por telefone, celular, emails e mensagens no WhatsApp, assim como Marconny e a Precisa Medicamentos também não se pronunciaram.Randolfe Rodrigues descreveu Marconny como o "senhor de todos os lobbies" e relembrou a reportagem publicada pela Folha."Temos um material probatório vastíssimo. Esse senhor não é um lobista somente da Precisa. Esse é o senhor de todos os lobies. Esse senhor está presente em esquemas, sobretudo no Ministério da Saúde, desde o ano passado ou antes. Então não se trata apenas de uma farmacêutica. Ele é o senhor de todos os lobbies, sobretudo no Ministério da Saúde, e com diálogos com pessoas próximas do presidente da República e contatos com pessoas próximas do presidente da República", afirmou.O vice-presidente da comissão ainda afirmou que não descarta a convocação de Jair Renan Bolsonaro para explicar a sua ligação com o lobista.Antes do início da oitiva de Francisco de Araújo Filho, os senadores da comissão realizaram uma sessão secreta para ouvir áudios de conversa envolvendo o lobista. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a veicular esses áudios durante a sessão aberta, mas foi alertado de que eles fazem parte de um inquérito sigiloso.Marconny chegou a enviar um atestado médico para a comissão, alegando que estava com dores pélvicas. O documento previa um afastamento das suas atividades por até 20 dias.A cúpula da comissão desconfiou da versão."Se um trabalhador brasileiro tiver o que o doutor Marconny teve, duvido ele conseguir 20 dias para ficar em casa com uma dor pélvica", afirmou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).Randolfe depois informou que manteve contato com o médico, que levantou dúvidas sobre a real situação do paciente, e por isso o depoimento foi confirmado para esta quinta-feira."O médico que concedeu o atestado do senhor Marconny Faria, entrou em contato conosco e disse que foi ele que concedeu o atestado, mas que notou uma simulação por parte do paciente e que deseja cancelar o mesmo. Com isso, amanhã receberemos o Sr. Marconny na CPI da Covid", escreveu em suas redes sociais.