Ex-ministra da Agricultura e senadora no segundo mandato pelo Tocantins, Kátia Abreu (PMDB) avalia que o governo do Estado não está conseguindo executar os projetos e poderá perder recursos importantes. Kátia também falou sobre os planos no Senado e que talvez assumirá uma comissão. Ela também fala sobre sua relação com o PMDB e o processo de expulsão do partido. Kátia também detalhou alguns projetos em andamento no Estado, tais como: criação da Escola de Gastronomia e Hotelaria e de um polo de confecção no Bico do Papagaio. Outro projeto citado para este ano é voltar a integrar os debates na Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). O que está ocorrendo com o recurso do BNDES para o CAR?Estive no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e fui informada que o governo do Estado executou 3% dos R$ 40 milhões do Fundo da Amazônia, doados em 2013, para implantar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Tocantins. Não estive no BNDES para tratar disso, mas me contaram que o Estado pode perder o recurso por falta de execução. Questionei o que estava acontecendo e o BNDES informou que o governo fica mudando o plano de trabalho, sem realmente executá-lo. E como está a execução das emendas parlamentares?A bancada federal tem 18 emendas, mas o governo federal tem obrigação de liberar duas, que são impositivas, escolhemos custeio da saúde e da segurança pública. Isso é emenda de pai para filho, de aliado, porém nem todos os membros da bancada são aliados do governador Marcelo Miranda. Mas nós pensamos no Estado. Em 2012, consegui R$ 60 milhões para a construção do Hospital Geral de Gurupi, o governador era o Siqueira Campos, houve problemas no processo de licitação e cinco anos se passaram e a obra não está pronta. Estou mencionando coisas que o dinheiro está disponível, pra mostrar a falta de compromisso, de capacidade administrativa e a falta de vontade política desse governo. Consegui dois tomógrafos de última geração para o Estado, mas não estão funcionando. Em Gurupi, quando conseguiram terminar a sala, ela ficou menor que o tomógrafo e o aparelho não coube no local. Em Araguaína, um médico me contou que quebrou uma peça de R$ 500 há quase dois anos e o governo não providencia o conserto. São recursos que trazemos para o governo do Estado e é difícil de retorno. Poderia muito bem enviar emenda individual ao governo do Estado, mas fazer isso é para perder o recurso. Não existe presteza na execução. Qual é a perspectiva da senhora para o Tocantins neste ano?O que é desanimador no Estado é que não sabemos mais o que fazer. Aprovei uma comissão externa no Senado para verificar a saúde no Tocantins. Não irá resolver o problema, mas preciso criar pressão política para ver se algo acontece. Será um ano dificílimo e os governadores estão fazendo reformas e reduzindo a máquina pública. Qual é a ação incisiva do governo estadual na área de gestão? Vamos conversar sério, a situação está feia e vamos ter que demitir pessoas para sobrar dinheiro para gastar com a população. Estado igual ao Tocantins não pode ter mais que 12 secretarias. Você não vê nada sendo resolvido. Todo santo dia a imprensa noticia uma desgraça no Estado, não há uma notícia boa. Fico pensando como o governador faria sem os deputados federais e senadores, que trazem as emendas de Brasília. Eu não sei como estariam os prefeitos. O próximo governo precisa, o governador precisa ter uma capacidade gerencial e administrativa, com pulso para fazer. Tem que enfrentar os problemas. E tenho esperança que não haverá reeleição para o Executivo em 2018. Falando em 2018, a senhora será candidata a governadora?Estamos avaliando as possibilidades para a eleição de 2018, tenho recebido um clamor muito forte para que eu possa ser candidata ao governo, mas isso não se decide dois anos antes. Chega a ser uma falta de respeito com a população que está tão sofrida e necessitada, então me recuso a tratar desse assunto nesse momento. Primeiro temos que resolver os problemas agora. A senhora foi alvo de um pedido de expulsão do seu partido. Como está a situação?O episódio da tentativa de me expulsar do partido foi uma ação exclusiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está sendo acusado de corrupção pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Polícia Federal (PF), que praticou toda a falta de ética possível e queria me levar para o conselho de ética do partido, essa figura que está aí exposta para todo o Brasil. O partido entendeu e muita gente no Brasil entendeu também que eu agi de maneira certa com a presidente Dilma ao me posicionar contra o impeachment. Eu não mudei de lado quando o barco afundou, amiga na hora boa tem que permanecer junto na hora ruim. A não ser que tivesse sido comprovado que a presidente Dilma praticou corrupção, bandidagem, aí eu não teria compromisso com ela. Agi corretamente do ponto de vista ético e o partido não é maior que os meus princípios. Eu tive oferta de cargos no governo Temer e não aceitei. Tenho uma boa relação com o PMDB nacional e sou respeitada pelas bancadas do partido no Senado e Câmara. E o PMDB no Tocantins?Agora aqui, ainda vamos ver. Vamos ver que fim vai ter os processos contra o Marcelo Miranda. Quem dera que ele conseguisse provar a inocência, seria um ganho para o Tocantins.E como está a eleição da Mesa Diretora do Senado?O processo está tranquilo. No momento estou participando diretamente das discussões da Mesa, talvez eu vá presidir uma comissão, o Renan Calheiros (PMDB-RN) está indo para a liderança do partido, o Eunício Oliveira (PMDB-CE) é nosso candidato a presidente. Na segunda-feira, a reunião do partido no Senado será na minha casa em Brasília para fazer os últimos acertos. A vaga da coordenação da bancada federal é dos senadores esse ano. A senhora tem interesse em assumir essa vaga?Eu nunca quis a coordenação e não quero agora. Avalio que o melhor nome entre Ataídes e Vicentinho é aquele que demonstrar ter mais articulação em Brasília e condições de trazer dinheiro para o Tocantins. E quais são os planos da senhora para este ano?Quero me dedicar ao trabalho no Senado e em conseguir recursos para o Estado. Consegui agora R$ 5 milhões para a construção da Escola de Gastronomia e Hotelaria, com recursos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Isso faz parte de um projeto maior. Estive na campanha eleitoral na região do Jalapão e voltei muito preocupada, achei a cidade de Mateiros terra arrasada. Busquei o Sebrae Nacional, com o aval do Sebrae local e eles farão a rota do Jalapão. O Sebrae já tem know-how na área pois fez a Rota das Emoções, que foi São Luís, Teresina e Recife, foi um sucesso. O que significa esse estudo, será o diagnóstico das quatro cidades para que possam ser verificado o necessário para continuar a serem o cartão postal do Estado e como receber bem o turista. Também consegui recursos, equipamentos e capacitação para a construção de um polo de confecções de roupas populares na região do Bico do Papagaio. Já foi depositado na conta da Prefeitura de Augustinópolis R$ 1 milhão para a obra. Consegui com o presidente da Fieto/Sesi/Senai todo o maquinário e o Sebrae, junto com a Fieto, fará o treinamento para as mulheres, donas de casa, moças, homens. Goiânia começou assim, com um polo pequeno e hoje é um destaque nacional. É uma região estratégica para vender aos estados vizinhos. Como a senhora vê a atuação do Senado em 2017, tendo em vista em 2016 a pauta girou em torno do impeachment e poucas pautas caminharam?No ano passado tivemos uma produtividade relativamente baixa e até conseguimos votar algumas coisas importantes diante do caos. A minha grande esperança é que, por questão de sobrevivência do Senado, dois terços dos senadores passarão pelas urnas em 2018. E será uma disputa duríssima, todos nós políticos temos que ter em mente que quem tem mandato, não adianta disfarçar de novo, estão em nível de risco altíssimo. Os bons e os ruins, pois generalizou. Vamos ter que provar muita coisa para a população, teremos que apresentar muitas propostas boas para ganhar o coração do povo de volta, pois nós perdemos. A classe política brasileira perdeu o jogo, quem está com ele na mão hoje é o Judiciário. E a participação da senhora da CNA, voltará para a presidência?Meu mandato vai até o final do ano. Agora que passou toda a questão do impeachment e as coisas estão melhor definidas vou voltar a discutir o assunto. Alguns presidentes de federação já estão me chamando para conversar. Em fevereiro ou março devemos começar a nos reunir. Não me interessa trabalhar em uma representação classista que não queira andar adiante, optar pelo reacionário ou atrasos. Quero defender um agro moderno, mais abrangente.-Imagem (Image_1.1216826)