O confisco pelo governo do Tocantins de 70% dos leitos de (UTI) Unidade de Tratamento Intensivo existentes da rede hospitalar privada de oito hospitais particulares em Palmas, Araguaína e Gurupi, desagradou os hospitais atingidos. A medida provocou reação do Hospital da Unimed e do Hospital Oswaldo Cruz, dois dos atingidos, que negam ter internados em leitos de UTIs, pacientes de outros estados. 
 
A chegada de voos com pacientes com Covid-19 do Pará para UTIs da rede privada de Palmas é um dos motivos que levou o Estado a confiscar leitos da rede privada para o SUS, segundo disse o secretário Luis Tolini à Globo News. Ele disse que ficou surpreso com a situação e determinou a requisição para "proteger o cidadão tocantinense". 
 
O confisco alcança em Palmas, o Hospital Santa Thereza, Hospital Unimed, Hospital Palmas Medical, Hospital Oswaldo Cruz, Instituto Ortopédico do Tocantins e Hospital e Maternidade Cristo Rei. Em Gurupi, a Unimed e em Araguaína, o Hospital Dom Orione.
 
Oswaldo Cruz cita Intensicare
O médico e diretor do Hospital Oswaldo Cruz (HOC), Walter Machado, afirma que o hospital não tem internado nenhum paciente de outro estado. O HOC recebeu a notificação do confisco na noite de sexta-feira, ainda. "O Oswaldo Cruz tem UTIs dele, mas dentro do endereço do Oswaldo Cruz, tem as UTIs do Intensicare", explica machado.
 
De acordo com o diretor, o Hospital Oswaldo Cruz não tem contrato com a empresa Vale para tratar quaisquer pacientes. "Os pacientes da Vale que estão em tratamento na UTI Intensicare no HOC, são de responsabilidade da Intensicare".
 
Machado disse estar surpreso com o CNPJ da Intensicare não constar na relação dos oito hospitais listados para o confisco pela Secretaria da Saúde (SES) na portaria conjunta de com a Procuradoria-Geral do Estado (PGE). 
 
O JTo questinou a SES, por e-mail como o governo estadual exige, se os leitos da empresa entraram no confisco, por estarem no endereço do Oswaldo Cruz e aguarda resposta. Uma fonte da secretaria confidenciou que os leitos da empresa estão no gupro confiscados no Oswaldo Cruz porque para a SES não interessa a relação do hospital para a gestão dos leitos, mas os leitos.
 
Intensicare
O JTO enviou mensagem para um dos responsáveis pela Intensicare, o médico Márcio Figueiredo, mas não houve retorno. O JTO pediu a confirmação de alguma notificação de confisco e se a empresa tem mesmo pacientes do Pará internado em suas UTIs. No mesmo endereço do Oswaldo Cruz, a empresa tem pelo menos 10 leitos de UTIs. Desses, 7 foram confiscados pelo Estado.
 
Palmas Medical
Outro atingido, o Hospital Palmas Medical afirma não ter feito nenhum convênio com a Vale Rio Doce e não há pacientes do Pará na unidade. O hospital diz apenas que participa do credenciamento para fornecer leitos para a Prefeitura de Palmas, a convite do órgão, mas não a contratação ainda não se concretizou. 

Notificado na sexta-feira, à noite, sobre o confisco do Estado, o hospital informou que  somente nesta segunda-feira, 18, a diretoria vai se reunir para tratar sobre o cumprimento da decisão do Estado.
 
Unimed
O Diretor Presidente da Unimed Palmas, Ricardo do Val Souto, disse, em nota, que o Tocantins está "anencéfalo em termos de governo e vê prejuízo. "O hospital só consegue recuperar seus custos fixos se a taxa de ocupação for superior a 70%. Abaixo disso é só prejuízo. E grande. Ou seja. Essa medida do governo foi um tiro na nuca de um morimbundo”. 
 
Segundo Souto, os hospitais privados vão “simplesmente falir, fechar as portas” e pode sobrar para o Hospital Geral de Palmas (HGP). “O HGP, que já é caótico, vai ter que lidar com esses pacientes também. Ou seja, é o caos instituído. Quando a cabeça não pensa, o corpo padece. Estamos anencéfalos em termos de governo", criticou em mensagem confirmada ao JTo.
 
O movimento dos hospitais caiu 70 a 80% com a suspensão de imensa maioria das cirurgias e redução drástica dos serviços de emergência, explica Souto. "Os consultórios estão às moscas. Os hospitais vivem disso. Têm contas a pagar. Tem folha de funcionários. Tem custos fixos enormes. Quanto tempo vcs conseguem viver recebendo 30% da sua renda?", questiona. 
 
Em outra nota, critica que o governo teve recursos e tempo de sobra para se preparar para essa pandemia, mas nada fez. "Há mais de 3 anos está com as obras de ampliação da UTI do HGP paradas. São 60 leitos praticamente prontos, só faltando equipá-los. Fora isso, o Hospital Oncológico está pronto e parado. Poderiam tê-lo alugado e transformado num hospital para Covid", critica. 
 
Nessa mesma nota, ele prevê colapso para quem paga plano de saúde."São os nossos impostos que financiam o SUS. Além de não utilizarmos o SUS, nós pagamos para quem utiliza, ou seja, para quem nunca pagou um centavo de plano de saúde. E agora, na hora da necessidade, quem pagou plano a vida inteira corre o risco de ter que ir para o SUS e quem nunca pagou pode ir parar num hospital particular. É justo? Óbvio que não".
 
"O governo optou pela saída mais fácil. Transferir o ônus de sua incompetência para a rede privada. Afinal, os milhões da ajuda federal podem ser destinados à farra do estado de calamidade pública, leia-se, dispensa de licitação", complementa.