Em conversa gravada, o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira (25) sob suspeita de interferir nas investigações da Lava Jato, indicou influência junto à presidente Dilma Rousseff e a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar conseguir a libertação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e Renato Duque. Na reunião, o congressista conversa com o advogado Edson Ribeiro e com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor.

Na fala, Delcídio fala que conversou com os ministros Dias Toffoli e Teori Zavascki, relator da Lava Jato, sobre o habeas corpus para os dois.

O congressista discute ainda estratégias para o convencimento do ministro Gilmar Mendes, indicando que pediria ao "[vice-presidente da República] Michel [Temer]" e ao "[Presidente do Senado] Renan [Calheiros" que conversassem com Gilmar. Toffoli e Gilmar negam tratativas.

Delcídio fala ainda sobre o plano de fuga para Nestor Cerveró.

Em depoimento aos investigadores, Bernardo Cerveró disse ainda que Delcídio colocou como uma das movimentações políticas para favorecer a situação do ex-diretor da Petrobras 'estar' com a presidente Dilma Rousseff.

"Prometeu movimentar-se politicamente para ajudar Nestor Cerveró e sugeriu que a família também procurasse Renan Calheiros e Edison Lobão [os senadores], porque Nestor Cerveró teria "trabalhado com essas pessoas", afirmou.

Questionado sobre como, concretamente, Delcídio Amaral prometeu movimentação política, o depoente explica que o senador disse que "tinha entrada no Supremo", "esteve com Dilma", "esteve com lideranças", sempre procurando sinalizar que poderia haver uma melhoria da situação de Nestor Cerveró a partir desses contatos políticos. Indagado sobre o que esperava do senador com sua movimentação política, o depoente esclarece que esperava que um ou mais juízes fossem convencidos a conceder habeas corpus a seu pai.

Questionado sobre as citações de Delcídio, Renan afirmou que não tem qualquer conhecimento sobre o caso e defendeu a separação dos Poderes.

"Não acompanhei nenhum detalhe. Se há uma coisa que precisa ser preservada na circunstância em que vivemos no Brasil é a separação dos Poderes. Não vejo, sinceramente, a possibilidade de haver uma influência de um poder sobre o outro poder. Da mesma forma que vejo a necessidade de garantirmos a Constituição no que se refere às garantias individuais", disse.

Confira o diálogo:
DELCÍDIO:
Agora, agora, Edson e Bernardo, é eu macho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli, pedi pro Toffoli conversar com o Gilmar, o Michel conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também.
EDSON: Tá.
DELCÍDIO: Por que, o Gilmar ele oscila muito, uma hora ele tá bem, outra hora ele tá ruim e eu sou um dos poucos caras...
EDSON: Quem seria a melhor pessoa pra falar com ele, Renan, ou Sarney...
DELCÍDIO: Quem?
EDSON: Falar com o Gilmar
DELCÍDIO: Com o Gilmar, não, eu acho que o Renan conversaria bem com ele.
EDSON: Eu também acho, o Renan, é preocupante a situação do Renan.
DELCÍDIO: Eu acho que, mas por que, tem mais coisas do Renan? Não tem...
EDSON: Não, mas o..., acho que o Fernando fala nele, não fala?
DELCÍDIO: Fala, mas fala remetendo ao Nestor.
EDSON: A é, também? Então tudo bem.
DELCÍDIO: Como também fala do Jader, remetendo ao Nestor.
EDSON: Então tudo bem. Escolheu o Fernando
DELCÍDIO: Agora, então nós temos que centrar fogo agora pra resolver isto...
EDSON: Mas então seria bom ver Renan olha só...
DELCÍDIO: Não, eu vou falar com ele...
DIOGO: Hoje tem reunião de líderes
DELCÍDIO: Eu falo com o Renan hoje.
EDSON: Tá bom.
DELCÍDIO: Hoje eu falo, porque acho que o foco é o seguinte, tirar, agora a hora que ele sair tem que ir embora mesmo."