O esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Operação Reis do Gado da Polícia Federal envolve obras de construção civil, rodovias, do estádio Mirandão de Araguaína, do prédio do Igeprev em Palmas e de diversas pontes construídas no Estado. Novas contratações de empresários e empresas investigadas por esquemas fraudulentos com o Estado, foi o que chamou a atenção da Polícia Federal. 

O esquema

Em coletiva de imprensa na manhã de hoje, o superintendente da Polícia Federal no Tocantins, Arcelino Damasceno explicou que os 108 mandados da operação foram expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por causa do foro privilegiado do governador Marcelo Miranda, apontado pela PF como um dos chefes do esquema. O pai de Marcelo, Brito Miranda, e o irmão José Edimar de Brito Miranda Júnior seriam os outros dois mentores do esquema de lavagem de dinheiro.

Segundo superintendente, os contratos investigados correspondem à primeira e segunda gestão do governador. “O grupo criminoso praticamente registrou em cartório a lavagem de dinheiro como extrato de uma sociedade privada.”

De acordo com o delegado responsável pela operação, Cleyber Malta, a investigação teve início há mais de um ano. A lavagem acontecia quando um dos laranjas se retirava da sociedade e deixava os bens para a família do governador. “Diversos bens da família Miranda estariam na posse de outras pessoas entre 2005 e 2012”, disse.  

Várias diligencias foram realizadas antes da deflagração da operação hoje, que confirmou que bens como fazendas e imóveis foram registrados em nome de terceiros  chegando a constituir cerca de R$ 200 milhões em nome de laranjas e R$ 60 milhões em espécie colocado na conta de terceiros, explicou o delegado. “No final, parte do valor teria voltado para o nome da família”, disse.  

A engenharia da fraude usava compra de fazendas e gado no estado do Pará, por isso o nome da operação. “Chegou a ser apontado como o segundo maior rebanho do Pará e chegaria a 30 mil cabeças de gado”, disse. Segundo o delegado, na analise da documentação a PF descobriu que atividade agropecuária foi usada para mascarar a lavagem de dinheiro feita pelo grupo.

“Os laranjas recebiam o patrimônio, mas não havia nenhum pagamento pelos bens e imóveis”, disse.

 

Origem do dinheiro

O dinheiro era originário de contratações arrendadas com o Estado e de alguns contratos entre o Estado e empresários. Para que esses empresários ganhassem os contratos, era paga propina a integrantes do grupo. Também era paga a propina para que os contratos fossem mantidos.  Esse grupo teria se originado em 2000 e apenas alternado conforme o governo eleito para comandar o Estado.  

“Essa propina era paga como forma de recebimento de obras e doação de campanha, configurando caixa dois”, afirmou o delegado.  Segundo ele, o dinheiro dessas contratações irregulares superam, e muito, os R$ 200 milhões nas mãos de laranjas.

Um exemplo dado pela PF é de uma fazenda no Pará registrada com o valor de R$ 20 mil, mas que na verdade valia R$ 40 milhões. “O gado subsidiava a lavagem”, ressaltou o superintendente que ainda acrescentou que para atingir a marca de cabeças de gado declaradas pelo grupo era preciso que cada vaca desse cria duas vezes por ano.  

A PF afirmou ainda que mais de R$ 7 bilhões em movimentações bancárias foram analisadas. Além das fazendas e do gado, diversas aeronaves em nomes de laranjas e de uso da própria família do governador, veículos e salas comerciais também são produto do esquema.