Às vésperas das prévias presidenciais marcadas para domingo (21), os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) intensificaram suas estratégias de buscar votos por meio de disparos de mensagens e costuras com tucanos da ala histórica.

A disputa está aberta entre Doria e Leite, com cada equipe apostando em sua vitória. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto também participa, mas sem chances de vencer, segundo tucanos.

Enquanto Doria obteve declaração de apoio do senador José Serra (SP) e do ex-governador Marconi Perillo na quarta (17), o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) reforçou os pedidos de votos a Leite.

Na quinta (18), Alckmin sinalizou a aliados que poderia permanecer no PSDB caso o gaúcho ganhasse a disputa, o que é visto como um argumento forte a favor de Leite.

Com o cadastro de tucanos no aplicativo de votação fechado desde segunda-feira (15), as duas campanhas também ampliaram o contato com filiados por meio de ligações e mensagens.

Acumulando vantagem entre os filiados sem mandato, que representam 25% da pontuação final, Doria intensificou as pesquisas, telefonemas e disparos de mensagens a tucanos em todo o país.

A campanha do paulista conta com a ajuda de uma consultoria e tem uma estrutura de call center robusta. Um mutirão feito num domingo, por exemplo, reuniu cerca de cem tucanos no diretório do PSDB de São Paulo.

A estratégia provocou incômodo de tucanos, que reclamam de receber várias mensagens por dia. Até senadores chegaram a ser abordados em pesquisas contratadas por Doria para revelarem qual seria seu voto.

A campanha de Leite reagiu, condenando o spam. "Lamentamos os envios de spam no WhatsApp oriundos de números apócrifos", afirmou em rede social, ressaltando respeitar "a privacidade e o horário de envio". Para aliados do gaúcho, o spam deixa as pessoas irritadas e tem efeito contrário.

A campanha de Doria investiu pesado em tecnologia. Aliados do governador fizeram pesquisas toda semana ao longo desse período, superando mais de 45 levantamentos.

Os resultados incluem análises e indicações de locais onde o governador teria potencial para avançar em votos.

A última pesquisa apontava vitória de Doria com cerca de 60% dos votos. Pessoas próximas ao tucano apostam que o índice deverá ser ainda maior. Creditam a ampliação da vantagem a uma "onda" de apoio de tucanos históricos, como Serra.

"Vamos ganhar as prévias, Doria construiu essa vitória com sua competência e aliados", afirma o presidente do PSDB da capital paulista, Fernando Alfredo. Ele minimiza as reclamações de spam: "quem reclama é porque vai apoiar Leite".

Na última semana, a campanha também aumentou o número de voluntários. Segundo pessoas próximas de Doria, há ex-prefeitos, vereadores e outros filiados atuando em 17 estados.

Outro ponto a favor da campanha paulista, de acordo com dirigentes, é a experiência em prévias passadas. O PSDB-SP já tem mapeado quais são os líderes que entregam mais votos, por exemplo.

Para montar a estrutura, Doria contou com uma consultoria. Segundo pessoas próximas, não foi usado dinheiro do partido para a contratação.

A executiva nacional do PSDB disponibilizou pouco mais de R$ 1 milhão para cada um dos três candidatos -a maior parte do gasto é com deslocamentos, hospedagem e eventos. Coube a cada diretório buscar mais doações e financiamentos para complementar as campanhas.

O entorno de Leite afirma que a estrutura de campanha é desigual e que sua equipe para disparos e ligações conta com cerca de 35 pessoas.

Ainda assim, a campanha do gaúcho também ampliou os disparos em massa na reta final, chegando a enviar, na quinta-feira, cinco mensagens aos filiados cadastrados para a votação.

Estrategistas de Leite afirmam haver dois focos agora: manter o apoio de eleitores considerados fidelizados e tentar conquistar aqueles que foram mapeados como indecisos. Ao longo da campanha, os disparos serviram para divulgar agendas, vídeos e incentivar o cadastro no app.

Outra reclamação dos aliados de Leite em relação à abordagem de Doria tem a ver com a rapidez com que a campanha paulista contatava os novos cadastrados no aplicativo de votação a cada dia.

Enquanto a campanha de Leite, menos organizada, levava até dois dias para alcançar os inscritos, a estrutura de Doria disparava mensagem no mesmo dia. Com isso, dizem aliados de Leite, os tucanos tinham a percepção de que havia uma vigilância sobre sua inscrição e seu voto.

Dirigentes do partido passaram a reforçar que o voto é secreto e que não haverá divulgação de apuração por cidade.

Auxiliares de Leite afirmam ainda que não chegaram a fazer pesquisas qualitativas ou quantitativas.

"Não estamos trabalhando para ver quem tem maior volume ou tamanho. A gente acredita que nossa mobilização é suficiente para poder angariar resultados positivos. O que não pode acontecer é saturar pessoas com SMS, WhatsApp, email", afirma o deputado federal Lucas Redecker, presidente do PSDB-RS.

Diante do clima de favoritismo e otimismo entre os rivais, Redecker afirmou que a disputa está apertada. "Leite tem muita possibilidade de sair vitorioso, tem que trabalhar ate o último momento."

Em desvantagem entre filiados, mas com a preferência do alto clero, Leite tem apostado no apoio de tucanos da ala histórica, como Alckmin e os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP), que deve comparecer ao evento final da campanha, nesta sexta (19), em São Paulo.

Contudo, Leite tem Alckmin como principal trunfo, uma vez que o governador gaúcho precisa consolidar uma dissidência de militantes em São Paulo para vencer.

Na quinta, a força tarefa de membros paulistas do PSDB que trabalham para que Alckmin não deixe o partido se animou com seus gestos. O grupo tem a expectativa de que Alckmin declare apoio a Leite publicamente.

Depois de admitir que deixaria o PSDB e abrir conversas com PSD, PSB e União Brasil, Alckmin decidiu esperar as prévias do PSDB e se cadastrou para votar, com o objetivo de ajudar Leite contra Doria, agora seu desafeto.

Por compor o colégio principal, composto por 52 tucanos congressistas e ex-dirigentes que valem 25% da pontuação final, o voto de Alckmin tem maior peso. De saída do PSDB, o ex-governador tem sido alvo de críticas por participar de decisão importante sobre o futuro da sigla e, por isso, tem atuado apenas nos bastidores.

Também atuante junto a nomes importantes do PSDB, Doria abriu espaço em Goiás com o apoio de Perillo. O ex-governador, assim como Serra, mencionou a obtenção da vacina contra covid-19 por Doria como motivo para apoiá-lo.

Se a vacinação é o principal ativo do paulista, tornou-se uma dor de cabeça para Leite após a Folha revelar que, a pedido do governo Jair Bolsonaro, o governador gaúcho tentou convencer Doria a adiar o início da vacinação.

Auxiliares minimizaram o estrago da revelação a dias da votação, afirmando que o efeito nas redes foi pequeno e que o eleitor de Leite já está convencido. Já o pedido para adiar as prévias, outro erro político da campanha de Leite na reta final, provocou reclamações de aliados questionando se havia perespectiva de derrota.

Em um sinal de que a questão da vacina teve impacto, Leite convocou uma entrevista para rebater a questão da vacina, embora já o tivesse feito pelas redes sociais.

O governador afirmou ter atuado por uma coordenação nacional para que a vacina chegasse a todo país ao mesmo tempo. "Não pedi e nunca pediria que se adiasse a vacinação no Brasil", disse.

Leite chamou de vale-tudo o uso do episódio por Doria.

"Esse novo uso eleitoral, politico, da vacina é absolutamente indevido. Não é apenas injusto, é imoral, oportunista, antiético. [...] É uma fake news disseminada num claro interesse eleitoral, para atingir uma candidatura com reais chances de ganhar as prévias do PSDB e promissora para o ano que vem", disse.