O ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo avaliou que o discurso de renúncia à presidência da Câmara feito por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nesta quinta (7) corrobora a tese da defesa da presidente afastada, Dilma Rousseff, de que a abertura do processo de impeachment dela se deu por uma "vingança política" do peemedebista.

Cardozo vai anexar o discurso de Cunha ao autos do processo para fortalecer a defesa da presidente afastada 

Em sua fala, Cunha afirmou que paga "um alto preço por ter dado início" ao processo. "Não tenho dúvidas, inclusive, de que a principal causa do meu afastamento reside na condução desse processo de impeachment da Presidente afastada", disse. Ele decidiu acatar uma denúncia contra a petista no ano passado, quando o PT não deu garantias de que o apoiaria no Conselho de Ética da Casa.

De acordo com Cardozo, ele irá anexar ao autos do processo o discurso como forma de fortalecer a defesa da presidente na comissão especial que analisa o caso para reforçar a tese do desvio de poder, em que o afastamento da presidente foi articulado para que as investigações da operação Lava Jato fossem interrompidas.

"O único culpado pelo que acontece agora é ele [Cunha] mesmo. A fala dele reafirma a nossa tese de que o impeachment tem motivação meramente política. Temos a convicção disso", afirmou Cardozo à reportagem.

Outras avaliações

Em tom de cautela, senadores do PT avaliam que a renúncia de Cunha à presidência da Câmara faz parte de um grande acordão para que seu mandato não seja cassado. O peemedebista enfrenta um processo no Conselho de Ética da Casa, que já votou favoravelmente à perda do mandato.

Para o líder da oposição, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o acordo passa também pelo presidente interino, Michel Temer. "Se ele for cassado, ele vai ser preso, junto com a mulher e a filha, e vai fazer a delação [premiada]. Esse gesto, para mim, ele não renunciaria se não tivesse um acordão montado para salvar seu mandato. Não foi nenhum gesto nobre", disse.

Já o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), avaliou que Cunha ainda continua sendo a pessoa mais influente da Câmara e "seguirá sendo uma ameaça e um grave problema para o governo Temer".

Seguindo o entendimento de Cardozo, Viana afirmou também que Cunha tirou da gaveta o pedido de impeachment e "colocou o Brasil em uma marcha da insensatez".

"O presidente da Câmara, sinto muito, não é vítima de nada. O Brasil é vítima, a democracia é vítima, essa crise tem uma ação no ex-presidente da Câmara um dos seus maiores protagonistas. A renúncia dele expressa que aqueles que lutaram para derrubar o governo da presidente Dilma o fizeram baseados numa ação de alguém que não consegue se sustentar na vida pública. Mostra que há um arranjo por trás desse impeachment que estamos apreciando aqui", disse.

Para ele, a renúncia de Cunha também é grave porque ele era o segundo na linha sucessória da presidência do país. "Ele hoje, se não tivesse se afastado, seria o vice-presidente da República, na linha sucessória. E é como se estivéssemos tendo a renúncia do vice-presidente da República", disse.