O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, indicou que o teor do discurso de acusação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, feita em plenário nesta sexta (15) pelo jurista Miguel Reale Jr, pode ser usado para um novo recurso ao Supremo Tribunal Federal.

"Vamos pegar as notas taquigráficas e apreciar, avaliar as consequências. Ele (Reale) falou de 2014, falou da Lava Jato, na acusação, e o Supremo ontem vetou isso", afirmou Cardozo, em entrevista coletiva após apresentar a defesa de Dilma no plenário da Câmara.

Na noite de quinta (14), o STF rejeitou pedido da AGU e de deputados do PT para suspender a votação do processo do impeachment, marcada para domingo (17).

Entretanto, os ministros decidiram que os deputados devem apreciar somente as acusações presentes na denúncia acolhida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), focada nas chamadas pedaladas fiscais e nos créditos suplementares editados em 2015 pelo governo.

A polêmica deve-se ao fato de o relatório aprovado na comissão especial sobre o impeachment nesta semana mencionar outros episódios, como a Operação Lava Jato.

Cardozo explicou que apresentou requerimento ao presidente da Câmara solicitando que os debates em plenário se concentrem nos temas definidos na decisão do STF. "Que não se venham com outros fatos para o debate", disse o ministro da AGU.

"A apreciação política se dá a partir dos crimes de responsabilidade e o STF os delimitou: os decretos suplementares de 2015 e as chamadas pedaladas fiscais de 2015 e esses fatos são inconsistentes", ressaltou.

O ministro ainda destacou que requereu que possa novamente apresentar sua defesa em plenário no domingo, dia da votação. "Sob pena de haver desrespeito do direito de defesa", disse. Ele não descartou entrar com novo recurso ao STF até domingo.

Apesar do cenário cada vez mais pessimista para Dilma na votação, Cardozo disse que saiu do plenário otimista: "Senti um clima muito positivo aqui hoje, de pessoas que diziam que não votariam, e agora, depois da defesa, dizem que vão votar contra o impeachment".

Durante o discurso de Cardozo no plenário, parlamentares de oposição estenderam por alguns segundos uma faixa com dizeres 'Acabou a boquinha ".

Deputados aliados exibiram cartazes de "Não vai ter golpe" e "Impeachment sem crime é golpe".

Após encerrar seu discurso no plenário da Câmara, Cardozo foi cercado e cumprimentado por aliados. Orlando Silva (PCdoB), ex-ministro do Esporte, disse ao ministro: "O seu discurso eleva a moral da nossa tropa. E tem muita gente aí indecisa. Eles estão falando que já ganhou e não ganhou. Seu discurso vai repercutir aqui na Casa, vai repercutir".

Abordado por uma jornalista ao término de sua fala, o ministro atribuiu seu desempenho na tribuna ao passado que teve como deputado federal.

Veja a sessão na Câmara: