Atualizada dia 17/04 às 21h

A atual diretora de Polícia do Interior da Secretaria da Segurança Pública (SSP), delegada Raimunda Bezerra de Souza, é citada no inquérito que apura se a fisioterapeuta Cynara Leão Mota, servidora de carreira, mas lotada na extinta Secretaria de Governo seria fantasma em Paraíso do Tocantins.  A citação aparece na petição dos investigadores para autorizar a busca e apreensão na casa de seis investigados, nesta terça-feira (12/4), sob suspeita de atuarem para facilitar supostos crimes desse caso.

Raimunda Bezerra não é investigada nem sofreu mandado de busca e apreensão. Ela teve de prestar depoimento aos investigadores da Operação Catarse como testemunha, em razão da suspeita de proximidade com a servidora, após a investigação encontrar diálogos de tratativas de lotação.

Em um relatório da Polícia Civil sobre a degravação dos dados de um celular apreendido na 5ª fase da operação, em dezembro de 2018, a delegada e a servidora tratam, em junho de 2018, da situação política e sobre quem assumirá o governo. A fisioterapeuta afirma que pensa em pedir licença e a delegada oferece uma lotação na delegacia regional, onde exercia a função de delegada regional.

A servidora agradece a oferta e sugere um trabalho de ginástica laboral ou relaxamento. Na sequência, a delegada elogia a sugestão e afirma que ela mesma assinará a frequência da servidora. “Fica tranquila”, diz a delegada, para completar: “Sei de sua capacidade”.

Segundo áudio transcrito pelos investigadores, a delegada sugere aulas de zumba na delegacia. “Cynara, excelente ideia, viu? Excelente ideia! Nós já estávamos trabalhando em cima disso aí. Aí a gente faz o horário, você dá... por exemplo... faz o horário... que a gente tava querendo dar zumba‟, as menina... em vez de zumba, da gente pagar, você ministra a aula. Ou tira zumba e faz a ginástica laboral (sic)”.

Em outros diálogos, a delegada se refere à tratativas feitas com o titular da Secretaria da Segurança Pública para interceder a fim de concretizar a lotação, mas diante da demora, chega a tecer críticas à postura do chefe (veja na imagem no final da matéria).

A diretora revela para a servidora, em outro diálogo, a mensagem enviada ao chefe fazendo gestão pela lotação dela. "Essa solicitação está sobre sua mesa. Trata se de pessoa de grande influência politica na cidade de Paraíso. Está ajudando nosso Governo agora neste turno. Peço que atenda este pleito da servidora", escreveu, às 11h37min do dia 8 de junho de 2018, durante o segundo turno das eleições. 

Ainda segundo as investigações, no depoimento aos investigadores, na condição de testemunha, a delegada disse ser conhecida da servidora e que recebeu o pedido de lotação na delegacia que comandava da própria servidora, em junho de 2018, em razão da instabilidade política, que poderia deixar a fisioterapeuta sem lotação, mas que exigiu a apresentação de um projeto de atendimento na delegacia para tentar a colocação da servidora na delegacia.

Argumento anti-manual

A proximidade com o alvo levou os delegados responsáveis pela operação a pedirem judicialmente que não fossem obrigados a cumprirem o Manual da Polícia Civil. A norma determina a comunicação prévia à chefia comum, em casos de cooperação entre unidades policiais. Como as buscas e apreensões de terça-feira (16/4) na casa de seis investigados envolveram as delegacias de Paraíso, Porto Nacional e Palmas, a comunicação prévia deveria ser para a diretora Raimunda Bezerra.

“Praticamente todos os mandados de busca e apreensão expedidos estão endereçados à Comarca de Palmas, não constituindo nenhum disparate afirmar que a comunicação prévia à chefia da unidade policial envolvida poderá redundar em grave perigo ao bom êxito das investigações”, afirma a juíza Renata do Nascimento e Silva, ao autorizar a operação sem o aviso prévio.

“Assim, a despeito da orientação contida no Decreto, que não tem caráter absoluto, já que a própria Carta Magna prevê a possibilidade de mitigação da publicidade dos atos processuais, a regra positivada no Manual de Procedimentos da Polícia Civil do Estado do Tocantins deve ceder espaço ao interesse público, no caso, preponderante”, completa Renata.

Outro lado

Procurada, por meio da assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública, a diretora Raimunda Bezerra informou que não se manifestaria.