O delator da Operação Lava Jato Adir Assad descreveu ao Ministério Público Federal os negócios que fazia com o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, operador do PSDB. Preso pela Operação Ad Infinitum, 60ª fase da Lava Jato, nesta terça-feira, 19, Vieira de Souza é investigado como operador financeiro do esquema de lavagem de dinheiro em favor da empreiteira Odebrecht. O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores/Governo Temer), hoje presidente da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade) do governo João Doria, foi alvo de buscas.

A Lava Jato afirma que Vieira de Souza disponibilizou, a partir do segundo semestre de 2010, R$ 100 milhões em espécie a Adir Assad no Brasil. Este entregou os valores ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, aos cuidados do doleiro Álvaro Novis – que fazia pagamentos de propinas, a mando da empresa, para vários agentes públicos e políticos, inclusive da Petrobrás.

Em depoimento, Assad contou que ‘retirava o dinheiro vivo com Paulo Vieira de Souza em uma casa situada no bairro da Vila Nova Conceição, em São Paulo’. Adir Assad controlava a empresa Rock Star no esquema de lavagem.

“Nessas operações específicas, o colaborador entrava na garagem da residência com um automóvel estilo perua e carregava, por viagem, de 12 a 15 malas com aproximadamente R$ 1,5 milhão cada; que, além das retiradas nessa casa, funcionários da Rock Star retiraram valores com Paulo Vieira em um apartamento situado na Av. Brigadeiro Luís Antônio, mantido exclusivamente para armazenar dinheiro, que Paulo Vieira também dizia ser de sua cunhada”, contou.

“Os funcionários da Rock Star contavam que ali havia um quarto inteiro cheio de dinheiro, e que por vezes testemunharam Paulo Vieira colocar notas para tomar sol, a fim de evitar que embolorassem; que, as retiradas pela Odebrecht foram feitas regularmente no escritório das empresas do colaborador na Rua Iraí, em regra por duas pessoas ligadas à empreiteira no Rio de Janeiro, conhecidos pelo colaborador apenas como cariocas; que, o colaborador estima ter retirado com Paulo Vieira de Souza e repassado à Odebrecht algo entre 100 a 110 milhões de reais nas operações ora descritas, aproximadamente entre fins de 2010 e meados de 2011.”

Segundo o procurador da República Roberson Pozzobon, o ‘bunker’ da fortuna de Paulo Vieira de Souza corresponde ao dobro do tamanho e da riqueza do ‘bunker’ do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Governo Temer). Em setembro de 2017, a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em notas de R$ 100 e R$ 50 e em dólares em caixas e malas em um apartamento usado por Geddel, em Salvador. O local ficou afamado como o ‘bunker’ de Geddel, que está preso.

“Nos remete aqui o bunker conhecido como bunker de Geddel, da família Geddel, foi alvo de uma fotografia e escandalizou a população brasileira muito recentemente. Se formos levar em consideração, talvez o bunker de Paulo Preto tivesse o dobro do dinheiro do bunker de Geddel”, afirmou.

A Operação Ad Infinitum foi deflagrada por ordem da juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba.

Vieira de Souza já é réu de duas ações penais da Lava Jato em São Paulo. Em um processo que trata de desvios de R$ 7,7 milhões em obras de reassentamento do Rodoanel, Aloysio Nunes foi arrolado como testemunha de defesa de Tatiana, filha de Paulo, também ré na ação.

Ligado a governos do PSDB no Estado, Vieira de Souza foi diretor da Desenvolvimento Rodoviário S.A (Dersa), estatal paulista. Suas relações com tucanos é muito antiga. Ele desfruta da fama de que detém informações privilegiadas.

Certa vez, na campanha presidencial em 2010, Vieira de Souza protagonizou episódio emblemático. Aparentemente ‘ignorado’ pelo então candidato do PSDB José Serra, que em debate na TV Bandeirantes com sua oponente Dilma Rousseff (PT) disse ‘não se lembrar’ do ex-diretor da Dersa, ele declarou à jornalista Andrea Michael. “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro.” O recado de Vieira de Souza soou como um aviso ao ninho tucano sobre o alcance e o peso que suas informações podem ter.

A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, ALOYSIO
O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Investe São Paulo, disse que ainda ‘não teve acesso às informações’ da Operação Ad Infinitum, a fase 60 da Lava Jato. Segundo ele, o delegado da Polícia Federal que conduziu as buscas em sua residência nesta terça, 19, ‘foi muito cortês’, mas não revelou a ele os motivos da diligência. “O inquérito está em segredo, eu estou buscando saber o que há.”

Aloysio negou ter recebido cartão de crédito da conta do operador do PSDB Paulo Vieira de Souza, preso na Ad Infinitum.

COM A PALAVRA, PAULO VIEIRA DE SOUZA
A reportagem fez contato com a assessoria de Paulo Vieira de Souza. O espaço está aberto para manifestação.