Os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), os dois Estados com mais mortes por coronavírus, voltaram a criticar o presidente Jair Bolsonaro por mais uma mudança no Ministério da Saúde após a saída de Nelson Teich do cargo.

Wiltzel se manifestou em sua conta no Twitter. "Presidente Bolsonaro, ninguém vai conseguir fazer um trabalho sério com sua interferência nos ministérios e na Polícia Federal. É por isso que governadores e prefeitos precisam conduzir a crise da pandemia e não o senhor, presidente", escreveu o governador.

Witzel havia se reunido com Teich na semana passada, no Rio, quando o ministro foi ao Estado para visitar unidades de Saúde dos âmbitos municipal, estadual e federal.  "É mais um herói que se vai", disse o mandatário, referindo-se à saída do médico do ministério. Também pelo Twitter, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que a saída de Teich traz "enorme insegurança e preocupação".

Já Doria fez uma longa crítica ao presidente durante coletiva desta sexta-feria, que já estava marcada para relatar as ações de enfrentamento à doença. "Eu lamento que essa troca tenha sido feita e espero que o sucessor do ministro Nelson continue seguindo a orientação da medicina e da saúde, e que não incorra no grave erro de seguir orientações ideológicas partidárias, pessoais ou familiares. Um ministro da saúde do Brasil deve proteger a saúde dos brasileiros, e não proteger a individualidade da intenção deste ou daquele mandatário", disse Doria.

"Lamento mais uma vez a perda do ministro Nelson Teich, como lamentei aqui a perda também do ministro Luiz Henrique Mandetta, que também pagou com seu cargo por defender o seu compromisso com a ciência com a saúde e com a vida dos brasileiros."

"O Brasil acorda assustado com as sucessivas agressões à democracia. Agressões à constituição, agressões às instituições, agressão ao Congresso Nacional, agressão ao Supremo Tribunal Federal, agressões à imprensa, agressões e xingamentos a jornalistas, agressões à ministros do seu próprio governo. Como o senhor fez e continua a fazer. Fez com Gustavo Bebianno, fez com Santos Cruz, fez com Sérgio moro fez com Luiz Henrique mandetta e agora fez também com Nelson Teich. Presidente Bolsonaro, governe. Administre o seu País com equilíbrio, com paz no coração, com compreensão com discernimento e com grandeza. Pare com agressões", afirmou o governador.

Doria também criticou o presidente Bolsonaro ao citar reportagem do jornal O Globo desta sexta-feira, que informa que o presidente estaria atrasando repasses aos Estados deliberadamente. "O gesto demonstra mais uma vez a insensibilidade, a intolerância e a incapacidade do presidente Jair Bolsonaro de compreender a dimensão do cargo que ocupa". "Governaram o Brasil é ter sensibilidade e capacidade para governar para todos os brasileiros, os que elegeram e os que não elegeram". Essa ação, disse Doria, "é um gesto deplorável".

 

Pedido a empresários

Na quinta-feira, em reunião com empresários, Bolsonaro pediu para eles “jogarem pesado” com Doria, para evitar o lockdown – fechamento total de todas as atividades – no Estado como medida de combate ao coronavírus.

“Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, o futuro da economia do Brasil. Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra. É o Brasil que está em jogo, se continuar o empobrecimento da população daqui a poucos seremos iguais na miséria”, disse Bolsonaro.

Doria reagiu na sequência: “Hoje, mais uma vez, o presidente da República perde a chance de defender a saúde e a vida dos brasileiros. São Paulo está lutando para proteger vidas". O governador disse que Bolsonaro "despreza vidas".  "Ele prefere fazer comícios, andar de jet-ski, treinar tiros e fazer churrasco. Enquanto isso, milhares de brasileiros estão morrendo todos os dias. Acorde para a realidade presidente Bolsonaro. Saia da bolha de ódio e comece a ser um líder, se for capaz.”