A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pela Câmara Municipal de Colinas do Tocantins, noroeste do Estado, distante 270 km da capital, caminha para a fase final de instrução, antes da apresentação do relatório, mas sofreu baixa de dois autores, que migraram para a base do prefeito Dr Kasarin (PSL). Até o momento, esta é a única investigação parlamentar envolvendo a pandemia instalada no Estado.Encabeçada pelo 1º vice-presidente da Casa, Augusto Agra (DEM), e mais seis vereadores, de petistas a pesselistas, a criação se deu após o Ministério Público ter acionado o prefeito Dr Kasarin (PSL) em ação civil. O MP questiona a gestão dele pela vacinação de cinco veterinários da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) na cidade."Em razão das notícias veiculadas e da ação movida pelo Ministério Público do Estado do Tocantins, é necessário que haja acompanhamento da distribuição e aplicação das vacinas, inclusive para o fim de evitar a prática de fura fila, que caracteriza ato de improbidade administrativa", dizem os autores, no requerimento.Presidida por Agra, a CPI está em fase de instrução e tem a relatoria do vereador Azia (Avante). Entre os autores do requerimento Daniel Garrincha (DEM) e Genival Dourado (MDB), em primeiro mandato, trocaram a oposição pela base de Kasarin. A Câmara tem 13 vereadores. Após a adesão, o prefeito passou a ter maioria. Os outros três, Romerito Guimarães (PT), Deuline Farias (PTB) e Marcão (DEM), são os membros da comissão.Após liminar de primeira instância na ação do Ministério Público, obrigando o município a respeitar as fases e a lista de grupos prioritários, o Tribunal de Justiça acatou recurso do prefeito e autorizou a segunda dose. A ação ainda não teve julgamento definitivo.Segundo Agra, até agora a CPI conseguiu acesso às planilhas manuais de vacinação e ao sistema de dados com o controle de todas as pessoas vacinadas, mas “não achou necessário” ouvir o prefeito ou qualquer testemunha. "A análise demonstra realmente é que o Ministério da Saúde, em seu Plano Nacional, é bastante impreciso, deixando vários critérios vazios e, onde trata de profissionais de saúde, generaliza demais, com vários informes técnicos dando embasamento técnico para a vacinação de certos profissionais de saúde que não estão na linha de frente de combate ao Covid. No caso de Colinas, os veterinários e odontólogos da rede privada e seus auxiliares.” O grupo que se debruça sobre a imunização de uma auxiliar de dentista, de 21 anos, e de um bombeiro militar, além dos cinco veterinários. "O bombeiro até justifica-se por motivo dos bombeiros fazerem em Colinas papel de SAMU", acrescenta Agra. “CPI é um instrumento muito desvalorizado no país, por servir de barganha e até para afastar prefeitos, mas aqui, serviu para que a gestão tomasse alguns cuidados, como dar publicidade à imunização, porque antes [da CPI] não se tinha nem informe sobre a faixa etária, agora, há mais zelo com as doses e grupos prioritários.” Segundo o presidente, se confirmar ilegalidades, o relatório deverá ser enviado ao MP para a responsabilização civil ou criminal dos infratores. Kasarin é odontólogo, ex-vereador colinense e teve a candidatura cassada na reeleição para o legislativo em 2012, à época, com o nome de Casarim. Eleito em 2020 com 37,19% (6.202 votos), afirma respeitar as prerrogativas dos vereadores e considera “justo” que investiguem os atos de sua gestão, mas nega que tenha ocorrido fura fila. “Estamos seguros do desfecho da CPI, porque não cometemos nenhum ato ilegal, tanto que fomos acionados judicialmente, recorremos da decisão e o desembargador concedeu favorável a nós, e recomendou a segunda dose”, disse ao Jornal do Tocantins. “Com relação à legalidade [da CPI], eu acredito que não foi um momento oportuno, visto que não havia uma fundamentação plausível para se instalar uma CPI da forma que foi implantada, nós respeitamos, mas eu acredito que é uma questão meramente política”, afirma. Falando em terceira pessoa, Kasarin nega a cooptação dos vereadores para sua base. “Não foi pressão, não foi de forma alguma atitude imoral ou ilegal do prefeito Kasarin, eu acredito e tenho certeza que eles sentiram a reprovação popular com relação à instalação da CPI e eles tiveram a consciência de retirarem os seus nomes da CPI, o que foi justo e correto porque pouquíssimas pessoas aprovaram a instalação da CPI.” O vereador Dourado não atendeu às ligações nem retornou as chamadas e mensagens. Garrincha não quis comentar as razões para a mudança de lado, nem confirmar se ainda apoia a investigação. O município recebeu 3.264 doses até a quinta-feira, 25, e aplicou 50.7% do imunizante, 1.156 em primeira dose e 500 na segunda, alcançando 3.26% da população, estimada em 35.851 em 2020 pelo IBGE.