Ao mesmo tempo em que a coletiva de imprensa ocorria no Palácio Araguaia, na manhã desta quinta-feira, 2, representantes das comunidades quilombolas e empreendedoras no Jalapão realizaram um movimento contra a lei de concessão dos parques estaduais do Estado. A lei, aprovada no último dia 24 na Assembleia Legislativa (AL), na visão dos moradores ao entorno do Jalapão, não foi elaborada sem consultar a população que fomenta o turismo local. ComunidadesO presidente da Associação Tocantinense de Turismo Receptivo (ATTR) Fernando Torres afirmou que a comunidade necessita de transparência sobre a concessão do Parque Estadual do Jalapão. “Nunca fomos ouvidos e de repente nos deparamos com essa aprovação da lei de concessão na calada da noite e não estamos entendendo quem são os beneficiados nesta lei”.Torres disse ainda que a categoria entende sobre a necessidade da concessão, mas não da forma que está sendo feita pelo Governo. “Estamos vendo que o Governo apresentará o projeto de concessão, não queríamos assim, queríamos ser chamados antes para participar para ajudar nessa construção. As pessoas que vivem no jalapão mereciam esse respeito. Não queremos ninguém da comunidade no subemprego. Essas pessoas são empreendedoras e o governo tem que ter respeito com isso. O Estado tem que entender que se o jalapão é conhecido internacionalmente é por causa dessas pessoas”.Jussara Tavares da Silva, moradora de Mateiros e integrante do quilombo Carrapato, Mata Formiga e Ambrósio, diz que a comunidade da região está de fora das decisões a respeito das mudanças no Jalapão, além do medo que os empreendedores da região sentem em perder sua garantia de renda. “Não sabemos o que vai acontecer. Estamos sentindo medo de perder nossas terras. A nossa família está há muito tempo no local e merecemos esse respeito. Foi uma concessão totalmente às escuras. Temos preocupação com todos que estão lá, porque hoje ganhamos nosso pão através do turismo. Deveria ter ouvido a comunidade antes de elaborar a lei”.A ATTR destaca que há sete comunidades e em torno de 300 famílias quilombolas existentes na área do Parque Estadual do Jalapão, as quais dependem exclusivamente do turismo e da venda do artesanato de Capim Dourado. “Um é consequência do outro, já que os visitantes vão conhecer os povoados e compram os produtos. O medo é de uma concorrência desleal com as grandes empresas de turismo que vão se instalar com a concessão. Até agora não sabemos como o dinheiro que o Estado vai ganhar será revertido para os municípios da Região”, ressalta o presidente.ProjetoEm uma coletiva de imprensa realizada na manhã desta quinta, o Governo do Estado afirmou que os projetos a respeito da concessão dos parques estaduais estarão disponíveis para consulta pública somente a partir do dia 30 deste mês, através de um sistema online. O projeto ainda não está concluído, segundo informações repassadas na reunião.O Jornal do Tocantins pediu tanto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quanto aos diretores do Consórcio Pitiguari, que executa o contrato OCS nº 003/2021, com o banco, o acesso aos seis produtos previstos no contrato do com o consórcio. Porém, esses produtos não foram disponibilizados para a imprensa e nem para a população. ConcessãoDocumentação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) consultada pelo Jornal do Tocantins mostra que o governo do Tocantins já sabe como será a concessão dos parques estaduais, como o Jalapão, à iniciativa privada. A documentação inclui um contrato de R$ 2,4 milhões do BNDES com o consórcio Pitiguari, que tem como líder a Spin Soluções Públicas. Pelo contrato, o consórcio vai estruturar a concessão de serviços públicos nos parques do Jalapão e Cantão, no Tocantins. A parte dos dois parques do Tocantins representa pouco mais de meio milhão (R$ 562,8 mil, cerca de R$ 281,4 mil por cada parque) do valor global de R$ 2.477.950,00.JalapãoO Parque Estadual do Jalapão, criado em 2001, é uma área de conservação integral, na zona rural de Mateiros. A única forma de exploração permitida é o ecoturismo ou pesquisas. Junto com a Área de Proteção Ambiental (APA) são 34 mil km² de área de natureza diversa e abundante, que, segundo os manifestantes, não está devidamente planejada sob o aspecto da preservação. “No PL não tem uma linha que fale da parte ambiental. Tem-se uma estimativa de sair dos atuais 40 mil visitantes para 200 mil. Queremos saber o que será feito com o lixo, por exemplo, se nem aterro sanitário temos. Por isso a conversa tem que ser em outros moldes. É participativa”, aposta Dias.