O planejamento do retorno das aulas virou mais uma dor de cabeça dos gestores municipais de educação. Por um lado, há uma pressão para que retorne as aulas por parte dos pais e por outro a insegurança para qualquer proposta de retorno. Ainda, se atrasa o retorno, os gestores são criticados e até acusados de irresponsáveis; se retorna e a contaminação acelera serão acusados de negligentes.  Estão entre a cruz e a espada.
 
É uma realidade complexa e não dá para ser negligenciada. Nesse caso, proferiria ser criticado pelo não retorno. Vamos entender uma coisa: de qualquer maneira a responsabilidade é dos gestores. Nenhum pai vai assumir a responsabilidade por filho contaminado no retorno as aulas, a culpa vai ser creditada na conta da escola.
 
Não temos outro horizonte com o mínimo de segurança sem a vacinação universalizada, o que os especialistas indicam que não vai acontecer antes do fim de 2021, na melhor das hipóteses. No início do ano vem deve ter vacina aprovada, mas não é imediata a vacinação. Ou seja, é mais provável segurança com vacinação para 2022! 
 
O Conselho Nacional de Educação (CNE) recomendou “fortemente” no início de julho que as redes de ensino não reprovassem os alunos. O que estou de acordo, mas penso que essa recomendação foi uma ação muito branda e precisamos de muito mais. Sabemos que o Ministério da Educação está ausente, além de não participar da solução, o que não faltou até agora foi confusão criada pelos Ministros. O resultado é a falta de liderança nacional. 
 
Nesse quadro, não há alternativa óbvia e nem facil. Qualquer tomada de decisão vai ter crítica severa. Então penso que a alternativa mais sensata é o cancelamento do ano letivo, não dá para voltar sem a mínima segurança. O que houve até agora foram improvisos que não atendem minimente o que se espera de aprendizagens em um ano letivo. Já temos problemas demais com as escolares funcionando em sua normalidade. A pandemia conseguiu piorar o que já não era bom. 
 
Minha sugestão: manter os improvisos que vêm sendo feito para um trabalho de recuperação. Nada de conteúdos novos. Os professores de cada escola sabem (ou deveriam saber!) as dificuldades dos estudantes da escola. Vamos usar esse tempo para ajudar a superá-los. Nada de aula tradicional, pode fazer um bom serviço de curadoria e criar roteiro de estudos para cada aluno usando o que está disponível na Internet. Em vez das turmas tradicionais, um trabalho de tutoria que cada professor apadrinha um grupo. 
 
A escola voltaria a abrir, mas num regime diferente, como espaço de estudos para os estudantes que não tem espaço ou acesso à internet em casa, ou que prefira vir para escola. Com grupos pequenos é possivel um esquema de distribuição no tempo e no espaço escolar para manter os cuidados para evitar a contaminação. 
 
Os estudantes que não têm dificuldades, podem ajudá-los em competências que melhore ainda mais seu processo de aprendizagem. Por exemplo: com esses podem ajudá-los a melhorar a gestão da aprendizagem em aspectos que as escolas quase sempre não têm tempo para preocupar, tais como a metacognição e a autorregulação. 
 
Tudo isso pode ser feito por grupos de pesquisa em qualquer nível, mesmo no ensino fundamental. É melhor investir em manter os alunos envolvidos com os estudos de  recuperação das suas fraquezas escolares que forçar a barra com uma aprovação sem o mínimo necessário de aprendizagem, o que só pioraria a situação. Se as coisas já não vinham bem antes da pandemia, vamos preocupar em não piorar.