O ex-ministro Ciro Gomes disse em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo e à Rádio Eldorado que “ninguém pode servir a dois senhores”, referindo-se à deputada do PDT Tabata Amaral (SP) e a outros sete congressistas que votaram a favor da reforma da Previdência no 1º turno da Câmara dos Deputados. Sobre Tabata, ainda ironizou: “Por que ela não vai para o MBL?”.

O PDT havia fechado questão contra a reforma, o que significa que todos os integrantes da sigla deveriam votar conforme orientação, sob risco de serem punidos. Ciro defendeu que os congressistas que contrariaram a orientação do partido deixem a sigla de forma espontânea.

De acordo com o ex-governador do Ceará, os deputados participaram de “inúmeras reuniões” convocadas pelo PDT sobre o tema e não faltou oportunidade para que eles apresentassem suas posições. No entanto, segundo Ciro, Tabata não manifestou qualquer intenção de votar a favor do texto enviado pelo presidente Jair Bolsonaro até 2 dias antes da votação em plenário.

“Eu acho que o mais digno –não quero particularizar nela [Tabata], porque foram ela e mais sete– é fazer o que eu fiz. Me filiei e ajudei a fundar o PSDB, que tinha um programa lindo, que tinha uma série de propostas muito sérias, foi para o governo e fez o oposto. Chafurdou na corrupção, nas privatizações, na roubalheira. O que fiz? Saí”, disse ao lembrar que ele próprio já trocou de partido algumas vezes.

Na entrevista ao Estadão, Ciro disse ainda que Tabata é uma pessoa de “enorme valor”, mas que a deputada é influenciada por sua proximidade com movimentos de renovação política.

“Ela só tem 25 anos. E ela entrou no Brasil nesse negócio que é dupla militância. Ela pertence a alguns movimentos que são financiados pelos miliardários brasileiros e que colocaram a faca no pescoço de todo mundo”, afirmou.

“Não quero aqui retaliar a Tabata. Mas daqui a pouco essa gente vai propor por exemplo a entrega da Petrobras. Qual é a posição dela? Daqui a pouco essa gente vai propor a autonomia do Banco Central, para entregar de vez a economia brasileira aos quatro bancos privados que monopolizam 85% das transações financeiras. Como ela vai votar? Pela linha do partido ou pela dupla militância que ela está demonstrando”, disse Ciro.

“Nós não queremos representar os neoliberais. Tem aí o MBL. Por que ela não vai para o MBL?”, acrescentou.

Na próxima 4ª feira (17.jul.2019), a Executiva Nacional do PDT vai analisar o caso dois 8 parlamentares que votaram de forma contrária à orientação do partido.

CIRO JÁ CONTRARIOU PARTIDO

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo lembra que Ciro Gomes já esteve em posição parecida à de Tabata. Em dezembro de 2004, seu então partido, o PPS (hoje Cidadania), decidiu deixar a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e entregar os cargos. Então ministro da Integração Nacional, Ciro se recusou a deixar o ministério e também a sair da sigla.

Dois meses depois, Ciro reclamou estar sendo vítima de perseguição e foi desligado do partido –o que é diferente da expulsão, já que ele continuou filiado ao PPS. Em abril, recebeu 1 ultimato do então presidente da sigla, Roberto Freire: “O que ele ainda está fazendo no PPS? Desmoralizando o partido”.

Em maio, Ciro trocou o PPS pelo PSB. Depois, ainda passaria pelo Pros antes de filiar-se ao PDT, onde está hoje.

À Folha, a assessoria de Ciro disse não ver contradição entre o atual e o antigo posicionamento do ex-governador:“Como já dito desde a semana passada, Ciro Gomes propôs que aqueles que têm uma posição diferente daquilo que o partido defende saiam e procurem o que esteja mais próximo de suas convicções. Assim como ele fez quando discordou frontalmente de decisões das siglas que fez parte no passado.”

O QUE DIZ TABATA AMARAL

Em coluna quinzenal mantida na Folha de S.Paulo e publicada no último domingo (14), Tabata Amaral disse que “muitos partidos já não representam de fato a sociedade, mas somente alguns de seus nichos”.

“Quando algum membro decide tomar uma decisão que considere responsável e fiel ao que acredita ser importante para o país, há perseguição política. Ofensas, ataques à honra e outras tentativas de ferir a imagem tomam lugar do diálogo. Exatamente o que vivo agora”, afirmou.

A deputada disse que “a boa política não pode ser dogmática” e que “discordâncias são normais no cotidiano e o ajuste e as acomodações das diferentes visões vão se dando em questões menores, com as bancadas muitas vezes sendo liberadas para as votações”.

“A ampla renovação política que está em curso e da qual faço parte agrava o quadro de conflitos internos dos partidos. É racional que as lideranças recorram a argumentos de ocasião para justificá-los. Mais racional contudo é pensarmos no Brasil”, disse ao finalizar a coluna.