Camponesa e líder sindical, Maria Senhora Carvalho, 60 anos, chegou a Região do Bico do Papagaio em 1967, com 13 anos, os pais cultivavam roça nas terras devolutas. Ela conta que não se falava na Guerrilha do Araguaia e que os moradores tinham um grande pavor do conflito e medo do comunismo. “A história era que os comunistas comiam gente, pegava crianças e tomava as coisas dos outros”, relata.Maria Senhora detalha que no final da década de 1970 intensificou-se os conflitos por terra e com isso discutia-se mais a história da Guerrilha do Araguaia e as pessoas começaram a ter conhecimento sobre o movimento. “Para se contrapor aos grileiros, os agricultores familiares começaram a se organizar e por isso éramos considerados terroristas, em razão do que se falava dos guerrilheiros”, diz.“Na região, a grande maioria das pessoas viviam de trabalhar a terra vindos dos conflitos do Maranhão e Piauí, já de um lugar sofrido”, destaca. Maria Senhora frisa que era preciso lutar, não existia outra alternativa. Ela conta que, em um primeiro momento, o grileiro comprava uma casa de um camponês e depois dizia que toda a terra próxima era sua e de forma violenta expulsava os outros camponeses. “Jagunços e a Polícia Militar atuavam na expulsão dos camponeses”. Maria Senhora ressalta que nesse período cerca de quatro lideranças foram assassinadas em emboscadas, mas várias outras teriam sido ameaçadas de morte e só continuaram vivas porque fugiram da região.Maria Senhora, que é coordenadora da Região do Bico do Papagaio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Tocantins (Fetaet), coordenadora do Território da Cidadania da região e presidente da Associação Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio, avalia que a violência no campo continua na região, apesar do fim da ditadura, camponeses continuam sendo expulsos de suas terras de forma violenta.-Imagem (Image_1.509607)-Imagem (1.509667)-Imagem (1.509665)-Imagem (1.509659)