O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) retirou o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) da vice-liderança do governo no Senado. O parlamentar foi alvo na quarta-feira (14) de uma operação da Polícia Federal em Roraima, quando agentes o flagraram com dinheiro vivo na cueca.A saída de Rodrigues do posto foi oficializada em edição extra do Diário Oficial da União."Nos termos do art. 66-A do Regimento Interno dessa Casa do Congresso Nacional, em atenção ao pedido do Senhor Senador Francisco de Assis Rodrigues, solicito providências para a sua dispensa da função de Vice-Líder do Governo no Senado Federal", diz o despacho de Bolsonaro.A operação realizada em Roraima mirou desvio de recursos públicos para o enfrentamento à Covid-19 no estado. Rodrigues é um dos principais aliados de Bolsonaro no Legislativo e membro da tropa de choque do Planalto.Parte das notas apreendidas na operação, de acordo com investigadores envolvidos no caso, estavam entre as nádegas de Rodrigues. Cerca de R$ 30 mil foram encontrados na casa do parlamentar. A informação foi divulgada pela revista Crusoé e confirmada pela Folha de S.Paulo.Após a operação, passaram a circular na internet vídeos antigos em que Rodrigues e Bolsonaro aparecem juntos e trocam elogios públicos. Em um deles, referindo-se aos anos de convivência na Câmara, Bolsonaro diz tratar-se de "quase uma união estável". Em outra, um Bolsonaro já apresenta Rodrigues como "velho colega da Câmara dos Deputados".Chico Rodrigues se alinhou ao Planalto mesmo antes da aproximação de Bolsonaro com o centrão. Tanto que, em abril de 2019, ele contratou em seu gabinete Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Leo Índio, que é primo dos filhos do presidente e pessoa de confiança do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).Além do mais, quando o presidente ensaiou designar seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para ser embaixador em Washington, Rodrigues foi escalado para relatar a indicação.Sem apoio no Congresso e diante de uma racha do PSL, seu partido à época, Bolsonaro desistiu da nomeação. Já nas primeiras horas após a ação da PF, aliados do presidente Bolsonaro passaram a avaliar que a repercussão da notícia causava constrangimento para o Planalto e que a permanência de Rodrigues na vice-liderança -responsável por defender pautas do governo no Legislativo— era insustentável.Desde a noite de quarta (14), aliados passaram a disparar mensagens a Rodrigues sugerindo que ele saísse da vice-liderança o quanto antes para centrar esforços na sua defesa, tanto a jurídica quanto a do seu mandato. Segundo um aliado do governo, Rodrigues no momento não tem condições de defender nada, a não ser ele mesmo.O coro foi engrossado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que defendeu a saída de Rodrigues da vice-liderança. "Eu acho que seria bom ele voluntariamente [sair], até para ele poder se defender das acusações que tem de forma mais livre", declarou o vice na manhã desta quinta.O presidente Bolsonaro, por sua vez, falou sobre o caso na saída do Palácio da Alvorada, quando parou para conversar com apoiadores. Ele marcou distância de Rodrigues e defendeu o trabalho dos policiais."Parte da imprensa [está] me acusando de o cara [Rodrigues] ser meu amigo, [que] eu [o] coloquei como vice-líder, [que] em consequência eu não combato a corrupção. Essa operação da PF [Polícia Federal] de ontem [quarta-feira] foi em conjunto com a CGU [Controladoria-Geral da União], cujo ministro é o capitão Wagner Rosário. Essa operação foi desencadeada conjuntamente [entre] CGU e PF: ou seja, nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita", declarou o presidente."Essa investigação de ontem [quarta-feira] foi um exemplo típico do meu governo, que não tem corrupção no meu governo e [que] combate a corrução seja quem for", acrescentou.O senador disse, em nota publicada na quarta após a operação, que confia na Justiça e que irá provar que não tem envolvimento com qualquer ato ilícito.Deflagrada pela PF e pela CGU, a Operação Desvid-19 tinha o objetivo de coletar informações sobre o desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares. Cada congressista tem direito a R$ 15 milhões por ano em emendas ao Orçamento da União.Os valores eram destinados ao combate à pandemia da Covid-19 —recursos administrados pela Secretaria de Saúde de Roraima.Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Boa Vista, expedidos pelo ministro Roberto Barroso, relator da investigação no STF (Supremo Tribunal Federal). Rodrigues foi um dos alvos.A reportagem ligou para o senador, mas não conseguiu contato. Em um comunicado que fez sobre o caso, o senador disse acreditar “na Justiça dos homens e na Justiça Divina”.“Estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência em Boa Vista, capital de Roraima. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado”, afirmou Rodrigues.O senador disse que teve o “lar invadido” pelos investigadores, por apenas ter feito o trabalho como parlamentar, levando recursos para o combate à Covid-19 na saúde do estado.“Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa no passado, foram provados na Justiça que sou inocente.”“Na vida pública é assim, e, ao logo dos meus 30 anos dentro da política, conheci muita gente mal intencionada com o intuito de macular minha imagem, ainda mais em um período eleitoral conturbado, como está sendo o pleito em nossa capital.”O parlamentar disse ainda que não trabalhou no Executivo, não é ordenador de despesas e, como legislador, faz a parte dele, “trazendo recursos para que Roraima se desenvolva". "Que a Justiça seja feita e que, se houver algum culpado, que seja punido nos rigores da lei”, afirmou.Em nota, a Executiva nacional do DEM afirmou que a direção da legenda determinou que o departamento jurídico acompanhe os desdobramentos da investigação. Segundo o partido, “havendo comprovação”, as sanções serão aplicadas. A legenda, contudo, não informou quais punições o parlamentar poderá ser alvo.“Estamos atentos a todos os detalhes da investigação e, havendo a comprovação da prática de atos ilícitos pelo parlamentar, a Executiva Nacional aplicará as sanções disciplinares previstas no Estatuto do partido”, diz a nota.