Amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e hoje secretário especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência, o almirante da Marinha Flávio Augusto Viana Rocha, 58, recebe R$ 20 mil a mais de remuneração mensal por ter sido indicado em julho para representar o governo em uma empresa ligada ao Banco do Brasil.Rocha é o mais cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, hoje ocupada por Jorge Oliveira, nome de Bolsonaro para uma cadeira no TCU (Tribunal de Contas da União).O almirante foi indicado pelo Banco do Brasil para uma vaga de membro titular do Conselho de Administração da Brasilseg, empresa do ramo de seguros fruto de uma parceria entre a instituição brasileira e o grupo espanhol Mapfre.A nomeação de Rocha foi efetivada em 31 de julho, para três anos de mandato. Pela participação no colegiado, ele tem direito a uma remuneração mensal bruta de R$ 20 mil.De acordo com o Portal da Transparência, o salário bruto pago ao secretário especial em julho, no qual não incidiu o valor devido por sua participação como conselheiro da Brasilseg, foi de R$ 44 mil. Constou um desconto de R$ 1.446,47 a título de "abate-teto".A informação sobre os salários pagos aos militares em agosto e setembro não havia sido disponibilizada pelo governo até a publicação deste texto, mas a verba paga a servidores públicos por participação em conselhos de empresas geralmente fica de fora do cálculo do teto salarial.O teto do funcionalismo público é de R$ 39,3 mil, vencimento pago aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).Hoje um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro, Rocha recebeu elogios do chefe do Executivo em fevereiro. Ao nomeá-lo, o presidente enalteceu o currículo do auxiliar e afirmou que estava "comprando" o passe dele na Marinha.Na ocasião, Bolsonaro promoveu uma mudança administrativa. Até então um setor da Secretaria-Geral da Presidência, a SAE ganhou novo status, passando a ser uma estrutura ligada diretamente ao presidente.Conforme reportagem da Folha publicada em julho, o almirante, apelidado de "a sombra do presidente", tornou-se um dos principais conselheiros e articuladores de Bolsonaro, com participação em decisões estratégicas e acesso livre ao gabinete presidencial.Descrito como discreto, sociável e apaziguador, Rocha atuou para arrefecer crises recentes, ajudou na sucessão do Ministério da Educação e coordenou a transição do Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus.Conhecido no Executivo como almirante Rocha, o secretário atuou como chefe da assessoria parlamentar da Marinha na Câmara. Caso se torne ministro, ele será o segundo militar da ativa no primeiro escalão.A Brasilseg, cuja razão social é BB Mapfre Participações, é resultado de uma parceria entre a BB Seguros e o grupo Mapfre, firmada em 2011 e com prazo de 20 anos.De acordo com informações disponibilizadas pelo banco, a Brasilseg é dona de 100% do capital de outras duas empresas, a Brasilseg Companhia de Seguros, que atua nos ramos de seguros de vida, habitacional e rural, e a Aliança do Brasil Seguros, que atua na área de riscos de seguros residenciais e empresariais.No dia 6 de julho, um comitê do BB encarregado de analisar nomes indicados a órgãos de governança de entidades ligadas ao banco analisou o nome de Rocha e se manifestou favoravelmente. No fim daquele mês, a indicação foi efetivada.Em resposta a perguntas enviadas pela Folha, o almirante afirmou, por meio de sua assessoria, que sua indicação "foi feita pelo Banco do Brasil que, como sócio da empresa, tem direito a indicar representantes ao referido conselho".Ele frisou que os conselheiros opinam em processos de tomada de decisões e definição de estratégias, "contribuindo, dessa forma, para a boa governança da empresa", e que tem a qualificação necessária para desempenhar a atividade."O secretário Flávio Rocha possui comprovada experiência nas áreas de estratégia, gestão e administração, fruto de sua capacitação profissional e de sua trajetória ao longo de quase 40 anos de serviço público", disse a nota da assessoria."Os membros do Conselho de Administração atuam com autonomia e, como já mencionado, são responsáveis por contribuir para a boa governança da empresa."O conselho realiza regularmente um encontro a cada mês, mas pode, se necessário, promover reuniões extraordinárias. Rocha informou que já participou de duas reuniões ordinárias e de um encontro extraordinário desde que foi efetivado.Sobre a remuneração bruta de R$ 20 mil pela participação no colegiado, o almirante disse que todos os membros do órgão recebem valor mensal fixo definido e custeado pela própria Brasilseg."O valor líquido da remuneração, após descontado o Imposto de Renda, é de R$ 14.987,08", informou.A Folha pediu esclarecimentos à direção do Banco do Brasil, mas a resposta ficou a cargo da BB Seguros, que confirmou a efetivação do almirante para o posto de conselheiro, sem fornecer mais detalhes, como a remuneração.Bolsonaro deverá decidir sobre a ida de Rocha para a Secretaria-Geral da Presidência após o nome do atual titular da pasta, Jorge Oliveira, ser sabatinado e aprovado no Senado para ocupar uma cadeira do TCU.Quando da indicação de Rocha para o conselho da Brasilseg, o presidente do Banco do Brasil ainda era Rubem Novaes.Uma das polêmicas da gestão de Novaes ocorreu ainda no primeiro mês do governo Bolsonaro, envolvendo a nomeação de Antônio Hamilton Rossell, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, para a assessoria especial da presidência do banco.Com a ascensão no banco público, o filho do vice passou a ganhar R$ 36,3 mil, o triplo do salário que recebia antes. A função equivale a um cargo de executivo.A decisão gerou desconforto na cúpula do governo, segundo relatos. Para integrantes da equipe ministerial, a escolha divergia da conduta defendida por Bolsonaro de acabar com privilégios.