Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para chefiar o Ministério Público Federal (MPF), o subprocurador-geral da República Augusto Aras dirá nesta quarta-feira, 25, aos senadores que defende a correção de “desvios e excessos” da Operação Lava Jato. Crítico de métodos “personalistas” da investigação que apura um esquema bilionário de corrupção no País, Aras vai sustentar que a “impessoalidade” deve ser regra geral para todos os agentes públicos.Aras passará por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e precisa ter o nome aprovado pela Casa para comandar o MPF pelos próximos dois anos. Nos últimos dias, em conversas reservadas no Congresso, o subprocurador disse ter visto um projeto político em curso, para os próximos anos, por trás de ações da Lava Jato. O comentário de Aras foi feito em referência ao vazamento de mensagens entre o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, e outros integrantes da instituição.As mensagens foram interceptadas por um hacker e divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Há tempos o subprocurador critica o que chama de métodos “personalistas” da Lava Jato, mas, nas conversas com senadores, foi além ao mencionar um projeto de poder para os próximos anos, segundo o Estado apurou.‘Padrão de qualidade’ da ‘boa Lava Jato’Apesar das críticas reservadas, o subprocurador vai informar aos senadores que pretende incorporar o “padrão de qualidade” da “boa Lava Jato” em outras investigações. Aras também vai garantir durante a sabatina que atuará com independência e autonomia à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR), apesar da posição considerada alinhada aos interesses do Palácio do Planalto na pauta de costumes e na economia. O subprocurador vai defender o destravamento da economia, com foco em grandes empreendimentos em curso no País, em um esforço para priorizar a conciliação entre as partes e evitar a judicialização de casos. Aras foi considerado fundamental pelo entorno de Bolsonaro para destravar a concessão da Ferrovia Norte-Sul e, para garantir a indicação à PGR, contou com o apoio nos bastidores de um dos ministros mais prestigiados pelo presidente, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura.Aras também pretende deixar aberta a possibilidade de revisar o entendimento da PGR em temas delicados. Em seus últimos dias à frente da Procuradoria, Raquel Dodge entrou com ações e enviou parecer ao Supremo contestando bandeiras do governo Bolsonaro, como o Escola sem Partido e decretos que alteraram regras para porte e posse de armas. Como os autos desses processos retornarão à Procuradoria em algum momento, Aras pretende reavaliá-los e decidir, caso a caso, se mantém ou não o entendimento de Raquel.CorporativismoA portas fechadas com senadores, Aras demonstrou ao longo dos últimos dias confiança com a aprovação de seu nome pela Casa e reforçou as críticas ao processo de definição de lista tríplice, que, na sua visão, evidenciam o “corporativismo” dentro do MP. A lista tríplice para a PGR não está prevista na Constituição.Ao escolher Aras para comandar a PGR, Bolsonaro ignorou o resultado da eleição interna feita pela categoria, com base em uma lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).Para Aras, um dos aspectos positivos de Bolsonaro ter quebrado a tradição da lista tríplice é que os próximos presidentes terão a liberdade de fazer o mesmo. Segundo relatos, o subprocurador ainda reprovou a aprovação de benefícios e penduricalhos que engordaram os contracheques de procuradores nos últimos anos. As críticas ao corporativismo devem ser retomadas na sabatina desta quarta.Na conversa com senadores, Aras prometeu abandonar o escritório de advocacia do qual é sócio. A atividade paralela é permitida pelo fato de o indicado a procurador-geral da República ter ingressado no Ministério Público antes da Constituição de 1988. Depois dessa data, porém, um procurador não pode acumular a função com a advocacia.Apesar de ser considerada legal, a atuação de Aras como advogado e subprocurador, simultaneamente, provoca questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse. O senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator da indicação de Aras na CCJ do Senado, pediu que ele deixe o escritório, caso seu nome seja aprovado pela Casa.