A Polícia Civil e o Ministério Público do Tocantins apreenderam R$ 50 mil e US$ 20 mil dólares na residência da presidente da Câmara de Palmas, Janad Valcari de Freitas (Podemos) durante a operação Pisadinha, deflagrada no dia 30 de setembro para cumprir os mandados de busca e apreensão determinados pelo juiz Alessandro Hofmann T. Mendes, da 1ª Vara Criminal de Porto Nacional.Segundo o auto de apreensão, a equipe policial bateu à porta da casa do residencial Privillege, em Palmas, indicado pelo juiz, às 6h28, do dia 30 de setembro. Provavelmente por erro da polícia, o termo é datado de 30 de agosto de 2021. No documento, a equipe relata que a própria presidente do Legislativo recebeu os policiais. A presidente fez questão de anotar, no verso do documento, a seguinte observação: “No ato da abordagem foi comunicado pela moradora que o mandado não constava o nome dela e nem mesmo as pessoas que consta fazem parte da residência e mesmo assim permaneceram no ambiente sendo feita busca apreensão, inclusive aparelhos telefônico (sic) de uso pessoal de Janad Valcari, ex-esposa do sr. Ordiley Kater Valcari. Ao lado da assinatura, consta a data de 30 de setembro às 6h14.”De acordo com o termo de busca e apreensão, ao qual o JTo teve acesso, havia ainda mais R$ 120 reais, em cédulas de R$ 20 no mesmo envelope lacrado em que foram encontrados os valores em dólares e reais. Não há descrição de quantas cédulas de dinheiro brasileiro e americano havia no envelope A polícia confirma ainda a apreensão de sete envelopes lacrados com documentos diversos, dois pendrives e um cartão de memória. Também houve a retenção de três celulares da marca Apple e um HD de 500 gigabites. Perseguição políticaNo dia da operação, a presidente afirmou, em coletiva à imprensa que havia chegado dos Estados Unidos e o dinheiro estava cima da mesa. A vereadora associa a operação em sua casa à suposta “perseguição política” que afirma ser vítima por parte dos parlamentares da Capital, aos quais ela não deu nome, e da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB). “Estão tentando me calar”, disse, ao citar sua atuação política, a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da BRK, a CPI do transporte público e o relatório da saúde municipal como razões para ser perseguida. Ela também garantiu não ter mais contato com o ex-marido. Outras apreensões Na casa da empresária Daniela Dias Fernandes de Lima, sócia da Pro 2 Locações de Estruturas, uma das empresas investigadas pela Promotoria de Justiça de Porto Nacional, a polícia entrou às 8h20 e aprendeu dois celulares, um computador, vários recibos de pagamentos e canhotos de cheque, 8 DVDs, 1 cheque (sem especificar valor). O marido dela, Carlos Eduardo Araújo, também investigado, assinou o mandado como testemunha.Para entrar na sede da Pro 2 Locações, na quadra 901 Sul, às 6h15, a equipe precisou de um chaveiro, pois não havia ninguém. A polícia aprendeu diversos documentos, quatro HDs, um deles de 1 terabite, dois de 500 gigabytes e um de 120 gigabytes.Na sede da L2 Prestacional, na Teotônio Segurado, a polícia apreendeu dez itens. Na lista policial consta agenda comercial, procuração pública de Joas Sousa Ribeiro para Ordiley Kater Valcari, vários contratos com valores, numeração de processo e cidades de destinação. Também aparece um contrato de prestação de serviços técnicos profissionais de engenharia civil e um contrato, de nº 046/2109, com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Porto Nacional, também alvo da operação. Há ainda propostas com descrição de serviços e valores praticados pela empresa L2 Prestacional, uma proposta para a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Porto Nacional, sobre um registro de preços, de nº 003 de 2019, além teclados, cartão de memória e computador.Apontado como outro sócio da L 2 Prestacional, e investigado sob a suspeita de ser laranja dos donos ocultos da empresa, Joas Ribeiro teve a casa, no setor Taquari, também alvo de busca. A equipe apreendeu apenas dois celulares de marcas populares. Joás Sousa Ribeiro tinha um pedido de condução coercitiva para ir depor no processo aberto pelo Ministério Público, mas a promotora do caso, Thaís Cairo Souza Lopes, desistiu do pedido, após a defesa do alvo ter contactado o órgão, e agendado a oitiva. A Operação PisadinhaSegundo o MP, a operação Pisadinha, é parte da investigação da 5ª Promotoria de Justiça de Porto Nacional. O órgão apura prática de improbidade administrativa e crime de fraude a licitação em contratos de locação de estrutura para shows e eventos pela Prefeitura Municipal no ano de 2019. Nas contas da promotoria, as duas empresas receberam do município de Porto Nacional, pelo menos, R$ 2,6 milhões entre 2019 e 2021. Uma das empresas investigadas, a L2 Prestacional, fundada em 2009, tinha como sócia a presidente Janad Valcari. Documentação da Jucentins, consultada pelo JTO, mostra que ela deixou de ser sócia no dia 12 de setembro de 2013, na quinta alteração e consolidação contratual da empresa. Nela, Janad Valcari, se retira da sociedade e repassa suas quotas (R$ 204 mil) correspondente a 51% do então capital social (de R$ 400 mil), para Ordiley Kater Valcari, seu então marido. O ato também passa para ele a plena administração da empresa.A Jucetins também tem registrada a 8ª alteração contratual, de 23 de fevereiro de 2017. Nela, Ordiley Kater Valcari, então marido de Janad, transfere suas quotas para o sócio Joás Sousa Ribeiro, que ingressava sob representação da procuradora, a atual presidente da Câmara, Janad Valcari.O nome da presidente aparece novamente em procuração datada de 14 de agosto de 2018. Nelas, Joás Sousa Ribeiro nomeia Ordiley Kater Valcari e Janad Valcari seus procuradores. O documento confere "amplos e gerais poderes para o fim especial de tratar de todos os assuntos, negócios, direitos e interesses do outorgante".O nome da operação faz referência à banda "Barões da Pisadinha", que tem como sócia-administradora a presidente do Legislativo. Segundo dados da Receita Federal, o CNPJ da empresa "Os Barões da Pisadinha Produção Musical Ltda", tem ainda outros dois sócios. Nesta operação, porém, a presidente não é alvo e nem a empresa "Barões da Pisadinha", criada no dia 22 de agosto de 2019. -Imagem (1.2330402)-Imagem (1.2330403)