Além da extinção da DRACMA (Delegacia de Repressão a Crimes de Maior Potencial contra a Administração Pública) da capital, servidores e delegados da Polícia Civil estão estupefatos porque o novo Regimento Interno da Secretaria da Segurança Pública (SSP), em finalização na Casa Civil do governo Carlesse, também dissolve, sem cerimônia, a Delegacia de Repressão a Roubos (DRR) de Araguaína, norte do Tocantins. 

A delegacia surgiu após os delegados da cidade - historicamente apontada como a mais violenta do Estado -, notarem o crescimento de 90% no número de roubos na cidade: saiu de 1.111 casos de roubos em 2014 para bater nos 2.111 em 2018. 

Com a atuação da DRR, e rendendo pautas positivas exploradas no site da SSP, como na operação Assepsis, de 2018, e Ali Babá, em 2019, o número caiu, segundo dados do titular da unidade, Fellipe Crivelaro Ayres Pereira, disponibilizados pelo Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Tocantins (SINDEPOL). 

Distrito como fim?

Crivelaro será mais um dos delegados atingidos pelo novo regimento, que anula todas as lotações atuais dos delegados. Ele e sua equipe se especializaram nessa área e desenvolveram um aplicativo para a DDR que cadastra e disponibiliza para consulta, em segundos, todos os IMEIs de celulares, indexados pelo número e local de ocorrência, facilitando o trabalho de consulta. 

Não será surpresa que ele seja realocado em um distrito qualquer da SSP, afinal até a Delegacia Especializada na Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DERFVA) de Araguaína, da qual ele atua e cuja estrutura dá suporte para a DDR sumiu da minuta do novo regimento.

Na tora

A DRR é fruto da observação e ação de delegados e servidores que, após perceber a pouca demanda da DERFVA, diante dos dados de roubos a pedestres, casas e empresas na cidade. Da forma empírica, passaram a testar e concretizar a sistematização de investigação, ocorrências e procedimentos em uma única delegacia.

Criada há quase dois anos, sob a tutela do então delegado regional Bruno Boaventura, a DRR passou a concentrar em um só lugar todos BOs de roubos. 
Sem jamais ter recebido a chancela da cúpula da SSP, derrubou os índices em 31%, quando comparados os dados do 1º semestre de 2018 e desse ano. Os números mostram que queda de 1.045 crimes registrado no 1º semestre de 2018 para 719 no 1º semestre de 2019: ou seja, 326 a menos. 

Outra visão dessa redução, apontada pelo delegado Crivelaro, é proporcionalmente a média diária no 1º semestre de 2018 para o mesmo período desse ano: a cidade do norte teve a média de 5,6 roubos por dia ano passado contra 3,8 por dia entre janeiro e junho de 2019.

No mesmo período, se os números de Araguaína forem comparados aos da capital, com o dobro da população (291,8 mil pessoas contra 177,5 mil pessoas pelo IBGE de 2018), revela-se que a capital teve alta de 1.179 para 1.202 roubos -  cerca de 2% a alta - nos seis primeiros meses do ano passado, em relação a 2019.

A minuta da forma como está, além de dissipar a delegacia que tem combatido a corrupção no Estado a partir de Palmas, acabará com a especializada que está mudando a história da cidade mais violenta do Tocantins.

Uma das maiores contribuições da Polícia Civil para a segundo maior e mais importante cidade do estado, será jogado fora sob queixas de que a cúpula da SSP passou a caneta no trabalho desenvolvido localmente ao elaborar esse novo regimento, sem jamais ter ido à cidade e ter conhecido o trabalho e a estrutura da delegacia, que tem mais números da eficiência para mostrar.

Depois, não será surpresa se a cúpula da SSP e do governo aparecerem com alguma “solução inovadora”, de preferência, com sistemas e tecnologias de fora, com alto custo e por aí, além.