O corregedor adjunto da Polícia Civil Douglas Sie Carreiro Lima se declarou suspeito para continuar a conduzir uma investigação da Corregedoria da Polícia Civil, aberta ainda sob o comando do ex-corregedor Fábio Simon, contra policiais de Gurupi - incluindo uma delegada-, da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DERFRVA).  Simon pediu exoneração do cargo e em seu lugar assumiu Márcio Girotto Vilela que recebeu o pedido de suspeição e deve redistribuir o caso.

Como a coluna mostrou, o inquérito apura a suspeita de corrupção de policiais de Gurupi, mas tem ganhado outros contornos a partir da revelação de que o caso contém a prática de “barriga de aluguel” – espionagem telefônica clandestina – dentro da própria Polícia Civil, contra policiais civis, a pedido de policiais civis que atuaram de forma antagônica numa investigação sobre roubo de máquinas de construção civil em 2018.

A Operação Grajaú

O caso se refere à “Operação Grajaú” na qual a DERFRVA de Gurupi que recuperou em Bom Jesus das Selvas, no Maranhão, uma escavadeira e um trator de esteira e uma prancha usada para transportar as máquinas, avaliados em mais de R$ 800 mil, roubados em junho de 2018 na BR-153, próximo a Nova Olinda, quando o motorista ficou em cativeiro por quase 12 horas.

Na apreensão das máquinas no Maranhão, além dos agentes da DERFRVA de Gurupi, participaram policiais da delegacia de Colinas, ambos mobilizados na investigação pelo gerente da empresa que teve os veículos roubados, identificado pela Polícia Civil como Aloísio de Abreu Martins de Paiva Júnior.

Inicialmente houve a suspeita que policiais de Gurupi atuavam no caso em troca de uma recompensa, avaliada entre R$ 30 e R$ 40 mil, negociada entre um agente de Gurupi e Aloísio, que denunciou o caso à Corregedoria Geral, em Palmas, na companhia de dois policiais de Colinas.

Operadora confirmou grampos ilegais

A “barriga de aluguel” aparece em documentação de uma operadora de telefonia para a juíza Joana Augusta Elias da Silva, da Comarca de Gurupi, no qual aponta que uma delegada de Colinas do Tocantins e um agente de Palmas incluíram telefones de um agente da DERFRVA para monitoramento por pelo menos três vezes, entre junho e julho de 2018 - antes e depois da operação no Maranhão-, em processos sobre outras investigações, que não guardam relação com o caso.

O corregedor adjunto tomou a medida de se declarar suspeito após o depoimento dado no último dia 26 de junho pelo agente palmense que incluiu o telefone do policial de Gurupi para ser monitorado. Segundo o corregedor adjunto, seu afastamento se dá pela "necessidade de assegurar a devida apuração nas investigações travadas" no inquérito policial.

Em que pé está a “barriga de aluguel”

Conforme o corregedor adjunto, no comunicado ao corregedor-geral, para concluir o inquérito contra os policiais de Gurupi faltam relatórios de missões policiais já cumpridas, a conclusão de investigações paralelas sobre o caso e a contratação de uma empresa especializada em extrair dados de celulares. Ele entregou todos os cinco volumes do inquérito e os oito celulares apreendidos.

Por outro lado, os policiais de Gurupi, investigados por ele, buscam desvendar o esquema da "barriga de aluguel".  A pedido deles, a Justiça determinou à perícia da Secretaria da Segurança Pública que faça uma análise integral do conteúdo extraído do celular do gerente Aloisio.

A determinação foi dada após a suspeita levantada pelos policiais de Gurupi, de que a Corregedoria Geral usou no processo apenas parte dos diálogos captados entre dois policiais de Gurupi e o gerente da empresa durante a busca pelas máquinas roubadas, buscando incriminar os policiais de Gurupi e poupando os policiais de Colinas.

Entre outras questões, a Justiça quer saber se houve extração de todo o conteúdo do Whatsapp do gerente e porque apenas um arquivo da conversa entre o gerente e dois policias de Gurupi foram usados. Também buscam saber se houve determinação de alguma autoridade para esse recorte e qual autoridade o fez.

A determinação judicial agora quer que a perícia diga, a partir da análise integral do conteúdo do celular do gerente, foque especialmente as conversas de Aloísio com dois contatos identificados como policiais de Colinas. O juiz substituto Elias Rodrigues dos Santos determina especificamente que a perícia verifique se nessas conversas há indícios de que o gerente tenha sido influenciado ou orientado pelos policiais de Colinas.

Um desses policiais de Colinas é apontado como o agente que monitorava, em tempo real, as ligações telefônicas do celular do policial de Gurupi. A suspeita aparece em uma transcrição das conversas anexadas ao processo captadas no celular do gerente.