Deflagrada na manhã desta quarta-feira, 6, a Operação Replicantes da Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de prisões, buscas e apreensões e apreensão de celulares expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da SJTO.Foram presos Franklin Douglas Alves Lemes (preventiva), Carlos Gomes Cavalcante Mundim Araújo e Alex Câmara (temporária). A PF havia pedido também a prisão preventiva do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) e do seu irmão José Edmar Brito Miranda Júnior, mas a Justiça não acatou porque os mesmos já se encontram presos em função da Operação Reis do Gado.A Justiça decretou também mandados de busca e apreensão em suas residências, nas empresas Exata Copiadora, Editora e Assistência, WR Gráfica e Editora Ltda e Empresa Prime Solution, que fazem parte do grupo Exata, e nas casas de Larissa de Sousa Aires Bucar, ex-servidora do gabinete de Marcelo Miranda, e Rosana Ribeiro Lopes, representante das empresas em licitação com órgão públicos.Segundo o inquérito policial, a Replicantes deriva das operações Reis do Gado, Carotenoides e Operação 12º Trabalho, que investigam atos de corrupção, peculato e lavagem de capitais ligados ao Palácio Araguaia na gestão do governador Marcelo Miranda. Ele e seu irmão, que atualmente estão presos, são acusados de conduzir “esquema orgânico para a prática de atos de corrupção, fraudes em licitações, desvios de recursos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de capitais, cujo desiderato era a acumulação criminosa de riquezas para o núcleo familiar como um todo”.No que diz respeito às empresas de copiadora, a PF apurou que foram identificados diversos indícios de contratação fraudulenta para fins de enriquecimento ilícito de seu administrador, Franklin Douglas Alves Lemes e dos irmãos Miranda, bem como outros envolvidos. As empresas tinham contratos celebrados com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e entre os anos de 2015 e 2016 teriam recebido do governo Estadual cerca de R$ 38 milhões.O inquérito aponta também que as tratativas para andamento dos pagamentos às empresas eram feitas por Alex Câmara, que tinha livre acesso aos gestores, e Carlos Mundim, Superintendente de Compras e Central de Licitação da Secretaria de Educação do Tocantins na gestão Miranda. A Polícia identificou que por diversas vezes Alex Câmara atuava para favorecer o Grupo Exata no sentido de agilizar pagamentos para as empresas administradas por Franklin. Para comprovar, o inquérito transcreve detalhes de interceptações telefônicas de conversas de Alex Câmara com servidores da Secretaria da Fazenda, apuradas na Reis do Gado, Carotenoides e Operação 12º.Além das apurações nas operações anteriores, que colaboraram para a deflagração da Replicantes, o esquema teria sido confirmado em depoimento por Elmar Batista Borges – conhecido como Cenourão -, ex-secretário de estado do Tocantins preso em setembro deste ano na Carotenoides. Conforme inquérito, Cenourão teria confirmado que existem provas sobre a prática de atos característicos de corrupção ativa por parte de Franklin Lemes e corrupção passiva dos Miranda. “Cenourão descortinou também a possível origem ilícita dos recursos, que supostamente eram decorrentes de pagamento de propinas advindas de licitações realizadas pela Secretaria de Educação do Estado do Tocantins envolvendo alugueis de máquinas copiadoras que, segundo Cenourão, eram destinadas exclusivamente para o Grupo Exata...”, diz trecho do inquérito que embasou a decisão da Justiça Federal para o cumprimento dos mandados.Intimidação à ImprensaO inquérito detalha a atuação de cada um dos investigados e traz ainda a suposta intimidação sofrida pelos jornalistas Lailton Costa, do Jornal do Tocantins, e Ana Paula Rehbein, da TV Anhanguera, ocorridas durante apuração de reportagens que mostram o montante pago pelo Palácio Araguaia ao Grupo Exata entre os anos de 2018 e 2019, e sobre a prisão dos Miranda, em setembro deste ano.A reportagem investigativa do Jornal do Tocantins mostra que a grande maioria dos pagamentos da Seduc ao grupo Exata não atrasava, ao contrário do que ocorria com outros fornecedores. Durante a apuração das informações, o jornalista teria sofrido abordagens intimidatórias por parte de pessoas ligadas ao grupo e, inclusive, registrou Boletim de Ocorrência em setembro.Laílton ainda foi procurado pelo jornalista Rogério Silva e Marcos Aurélio de Miranda Costa, superintendente da Seduc, que foram alvos de mandados de busca e apreensão de celulares em seus endereços. A suspeita é de que eles teriam conversado com Laílton no intuito de barrar a publicação do material sobre o Grupo Exata.A PF considerou no inquérito que é provável que as abordagens tenham ocorrido a mando de Franklin Lemes para a não publicação do material, já que ele “seria o principal prejudicado com a sua divulgação em razão do acionamento dos alertas das instâncias”.Já a jornalista Ana Paula Rehbein teria recebido telefonemas na sede do Grupo Jaime Câmara (GJC) em Palmas minutos após a veiculação de reportagens sobre a deflagração das operações Carotenoides e 12º Trabalho.O deferimento aos mandados é assinado pelo juiz federal Fabrício Roriz Bressan, da 4ª Vara Federal Criminal da SJTO.Defesa dos citadosO advogado de defesa de Lemes, Leandro Manzano, ainda não se manifestou sobre o caso e não atendeu aos telefonemas na tarde desta quarta. A reportagem ainda tenta contato com as defesas dos demais alvos de prisão.A reportagem também tenta contato com Rogério Silva, entretanto, em suas redes sociais, o jornalista explicou que falou com Lailton Costa das informações que tinha recebido sobre as tentativas de barrar o trabalho jornalístico para alertá-lo dos “cuidados que deveria tomar pra assegurar sua própria segurança”. “Como há várias conversas e trocas de mensagens entre nós no meu celular e no whatsapp, é natural que a Polícia Federal buscasse mais esclarecimentos”, disse Rogério na postagem publicada na tarde desta quarta-feira.SindicatoO Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins (Sindjor), se manifestou sobre as possíveis intimidaçãos aos profissionais. Veja nota na íntegra:"Em razão das últimas notícias divulgadas acerca de operação da Polícia Federal com menção ao trabalho e atuação de jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins informa que está acompanhando o caso e reitera que luta sempre pela manutenção do livre exercício garantido em Lei e na Constituição Federal. O Sindjor-TO repudia veementemente qualquer ato que possa ir contra o trabalho livre do jornalista. Importante salientar que, muitas vezes, o trabalho do Sindicato é feito sem a manifestação pública ou qualquer divulgação, em respeito aos profissionais envolvidos e as particularidades de cada caso".