A representação da Polícia Federal junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que resultou no afastamento do governador Mauro Carlesse (PSL), do seu sobrinho e secretário de Parcerias e Investimentos Claudinei Quaresemin, e de outros servidores apontados como integrantes de uma suposta organização criminosa que cobrava vantagens de fornecedores do Plansaúde (Plano de Assistência à Saúde dos Servidores), indica que até material de pesca aparece como propina para liberar os pagamentos aos prestadores de serviços.

Conforme decisão do ministro Mauro Campbell na movimentação financeira com fornecedores do estado, o grupo cobrava o percentual entre 4% e 20% sobre o valor de nota fiscal para liberar os repasses, mas também incluiu, em pelo menos uma ocasião, material de pesca adquiridos em uma empresa do ramo, que pertence a um dos administradores do Hospital Oswaldo Cruz (Hospital de Urgência de Palmas). O hospital é ligado à família do médico Luciano Teixeira, que denunciou o caso e gerou a investigação policial. O dono da loja é Marcos Teixeira. Assim como o irmão, também atuou como colaborador das investigações.

Conforme a PF, os equipamentos de pesca usados como propina somam R$ 8,1 mil. O ex-assessor especial da Secretaria da Educação, Juventude e Esportes Rodrigo Assumpção, o Rodrigo Bolinha, ao lado do empresário Rômulo Bueno Marinho Bilac, apontado como operador financeiro, são indicados por testemunhas como as pessoas que retiraram o equipamento na loja em agosto de 2019.

As testemunhas que trabalham na loja afirmaram aos investigadores que a dupla compareceu à loja, escolheu o material de pesca e disse que se tratava de itens para o governador Mauro Carlesse. Eles indicaram que a fatura deveria sair em nome do hospital.  Segundo a decisão do ministro, a PF afirma que depois o valor seria “objeto de compensação na contabilidade referente às vantagens indevidas pagas pelo Hospital ao grupo criminoso supostamente liderado por Mauro Carlesse e Claudinei”.

Uma nota fiscal de n. 000.003.288, série 1, está anexada pela PF no processo como prova da venda. A documentação inclui ainda fotografias do governador com o ex-assessor especial em um momento de pesca. Para o ministro, os registros fotográficos demonstram a utilização do material pelo governador.

Em sua conta no instagram, o governador aparece em uma postagem fritando um peixe muito apreciado na região, o Tucunaré. Esta postagem, porém, é de maio deste ano.

Como era o suposto esquema segundo a PF

Em sua decisão, o ministro cita informação do Ministério Publico Federal de que o Plansaúde pagou mais de R$ 561 milhões a fornecedores - que tinham valores a receber acima de R$ 1 milhão - entre 1º de janeiro de 2018 a 10 de novembro de 2020. Desse valor, o órgão estima que mais de R$ 30 milhões podem ter sido desviados pelo suposto esquema revelado na Operação Hygea.

Ainda de acordo com o Ministério Público Federal, em trecho citado pela decisão do ministro, somente nos dois anos iniciais do governo de Carlesse, o pagamento de propina por meio da dissimulação de serviços e fornecimento de insumos com notas fiscais frias, repassaram mais de R$ 2.215.230,08 de propina em benefício ao suposto grupo criminoso.

Conforme a PF, o esquema funcionava com o diretor do Plansaúde barrando pagamentos por meio de glosas (corte) de valores. Os operadores financeiros e servidores públicos ajustavam os percentuais de “propinas” a serem pagas pelas empresas de saúde credenciadas no Plansaúde.

A transação financeira ocorria por meio de notas falsas emitidas nos valores dos cheques pagos por fornecedores que envolviam falsas prestação de serviços ou falsa venda de insumos para o fornecedor. Assim que o dinheiro entrava em conta de empresas indicadas pelos operadores, a nota fiscal era cancelada.

Além de Carlesse e Quaresemin, a suposta prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, investigada pela PF no caso Plansaúde, além de alcança ainda a ex-secretária executiva do Tesouro, Dilma Caldeira de Moura, a ex-assessora especial do governador, Thaís de Carvalho Costa, esposa do ex-secretário de saúde, Luiz Tolini, o ex-diretor do Plansaúde e o ex-secretário executivo da Administração, Ineijaim José Brito Siqueira.  

Também inclui o ex-assessor de Gabinete da Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes Rodrigo Assumpção Vargas, o "Rodrigo Bolinha"e os empresários Benedito Dilson dos Santos Gomes, o "Benedito Papinha", os irmãos comerciantes Rômulo Bueno Marinho Bilac e Júlio Kener Marinho Bilac, Igor Prado Silva Santos, Fernando Noleto Monteiro e Ramos e Farias e Silva.