Defensora do setor agropecuário, Kátia Abreu (PMDB) avalia que excessos cometidas na divulgação da Operação Carne Fraca prejudicou toda a cadeia produtiva. Para ela, a investigação mostra que ocorria casos de corrupção, mas não existem problemas sanitários. “Dizer que tem risco zero, isso não existe em nenhum lugar no mundo”, contou. Sobre 2014 e o apoio ao governador Marcelo Miranda (PMDB), Kátia respondeu que hoje é oposição. “Então o fato de tê-lo apoiado não significa que eu tenha que morrer ao lado dele errando”. A senhora afirmou que a Operação Carne Fraca mostra um problema de corrupção no setor. Não existem problemas sanitários com a carne comercializada no Brasil e exportada pelo nosso País?É corrupção pura e simples. A carne brasileira é saudável. A nossa legislação é muito rigorosa quanto ao abate de carne, que passa por vigilância permanente. O que significa isso, você não pode ter um frango morto sem a inspeção. Dizer que tem risco zero, isso não existe em nenhum lugar no mundo. Não podemos dizer que o nosso sistema está precário, mais importante é que as denúncias, todas, vêm de dentro; não tem uma denúncia de fora, de uma associação comercial. Poderia ter tido algum problema sanitário, o que não seria o fim do mundo porque temos que buscar melhorias cada vez mais e repito: o risco zero é muito difícil. Neste caso não existiu risco sanitário, foi exclusivamente corrupção. Com o objetivo de combater a corrupção, a senhora apresentou um projeto de lei que aumenta a punição ao servidor público corrupto quanto o ato atingir toda uma cadeia produtiva. Como é a proposta?Já temos punições suficientes no Brasil, muitas vezes temos uma morosidade pelo acúmulo de processos todos os dias. Queremos dar uma penalidade maior, mais forte e imediata àqueles que atentarem contra cadeias produtivas, como tivemos agora no caso operação Carne Fraca. Precisamos ter mecanismos cada vez mais fortes e sólidos para termos o risco zero. Qual a sua posição quanto à reforma da Previdência?De fato, ela tem pontos inadmissíveis, mas precisamos fazer uma atualização porque a expectativa de vida aumentou, as pessoas estão ficando mais velhas e morrendo com mais tempo de vida. Precisamos rachar a conta, porque o governo também tem pontos que deveria fazer. Porque não cobra dos grandes devedores? Porque não rever as desonerações de impostos? Isso já equilibraria bem e não seria necessário por exemplo exigir do trabalhador que ele se aposente com 49 anos. A reforma, como está hoje, votarei contra. Para a senhora, o governador Marcelo Miranda deveria solucionar os problemas da saúde ou renunciar ao cargo de governador. Mas a senhora ajudou a elegê-lo, estão no mesmo partido. Se arrepende da aliança política feita em 2014?O que aconteceu com o Tocantins: tivemos um governo do Moisés Avelino que foi um bom, uma pessoa responsável, deixou para o seu sucessor muitos financiamentos encaminhados; Siqueira Campos fez dois mandatos espetaculares; que consolidaram de fato o Tocantins, e depois vieram dois governos do Marcelo Miranda, que naquela época não foram ruins, com um desempenho razoável. Quando venceu sua cassação (Marcelo Miranda), as pesquisas apontavam que ele era a preferência do Estado. Então o fato de tê-lo apoiado não significa que eu tenha que morrer ao lado dele errando. O ingresso da senhora no PMDB foi bastante conturbado. Anos se passaram e a situação dentro do PMDB da senhora continua tensa. Por que a senhora não participou do encontro do partido no Tocantins realizado no mês passado?Primeiro eu não fui convidada e só vou sem convite a enterro e velório. E se tivesse sido convidada eu não iria, não era um palanque que eu gostaria de dividir. Um palanque de um partido do governo que está a frente do Tocantins que é uma decepção aos tocantinenses, o fato de eu estar nesse palanque significa e simboliza para a sociedade tocantinense que estou apoiando a gestão dele. E eu não estou apoiando esse governo. E política é feita de símbolos.Logo após ter sido alvo de críticas no encontro a senhora foi nomeada como vice-líder do PMDB no Senado. Foi uma demonstração de força ao PMDB no Estado?Ninguém é convidado para ser vice-líder se não tiver força dentro do seu partido. O senador Renan Calheiros (líder do PMDB no Senado) já havia me convidado há algumas semanas, mas estava um pouco relutante em aceitar. Na última conversa que tive com ele perguntei se ocupar a vice-liderança significaria ter que apoiar 100% das ações do governo federal. Renan me respondeu que não, ao contrário o PMDB permite a divergência. Então respondi que aceitava. Ele disse que eu poderia ficar a vontade, defender as matérias que eu considere corretas, mas também bater naquilo que eu discordo. A senhora pediu ao Ministério da Saúde intervenção na saúde pública do Tocantins. Tal medida será adotada?Acho difícil porque o governador Marcelo Miranda é do mesmo partido do presidente Temer e uma intervenção geraria um problema político que ele com certeza quer evitar. Às vezes a política fica maior que a população e a saúde pública e isso é revoltante, porque em qualquer outro país, o Tocantins já teria sofrido uma intervenção.