Kátia Maia Flores, professora da UFT e pós-doutora em História
1821 foi um ano de grandes agitações em Portugal, Brasil e em toda capitania de Goiás, e a Joaquim Theotônio Segurado couberam episódios marcantes para o norte goiano. O epicentro foi o chamamento de D. João VI às províncias do Brasil a aderirem à nova constituição.
Depois de liderar o primeiro grande movimento de autonomia do norte goiano, em setembro de 1821, Theotônio Segurado elegeu-se deputado constituinte. A frente do movimento conclamava os nortistas a por fim no governo despótico de Goiás com a criação da província de São João das Duas Barras e viu como oportuno o chamamento dos representantes das províncias.
Enquanto Goiás vivia instabilidade e desordem em razão da fragilidade do governo, Theotônio fez valer sua liderança conquistada nos quase 15 anos em que exerceu a ouvidoria no norte. Há muito o norte se queixava do abandono e da exploração do sul da capitania. A decadência da mineração fez emergir uma economia agropastoril que lutava contra a precariedade das estradas e dos altos custos dos transportes para competir nos mercados consumidores. Os rios que cortavam toda a região se apresentavam como alternativa, porém a falta de investimentos na desobstrução dos trechos encachoeirados dificultava a navegação.
A pecuária surgiu como alternativa viável por ser auto transportável. Fixa-se no norte uma economia baseada na criação de gado vacum, com pouco investimento. Mais de seiscentas fazendas de criação se espalham pelos sertões exportando cerca de 20.000 cabeças de gado e concentrando grandes extensões de terras nas mãos de poucos.
Ciente desse emaranhado que a economia mineira exclusivista desencadeou, Theotônio defendeu medidas para soerguimento da capitania com investimentos na agropecuária, navegação dos rios e comercialização com os portos do Pará. Seu interesse não se restringiu à economia e à magistratura. Fincou pé na região. Formou família, virou fazendeiro, criador de gado e conquistou a confiança das lideranças do norte com quem alinhou seus interesses.
Segurado tomou posse junto as Cortes Extraordinárias em abril de 1822 apresentando dois diplomas. Um, expedido pela junta eleitoral da Província de Goiás, quando também foi eleito Antônio da Silva e Sousa, e outro da Vila de São João da Palma, cabeça da Comarca de São João das Duas Barras. Tratava-se de mais um ato da Junta Provisória que buscava afirmar a autonomia da província do norte junto ao governo português. Segurado tomou posse como representante da então emancipada Província de São João das Duas Barras: “parece, pois, a Comissão, que o Deputado Joaquim Theotônio Segurado (a quem pertencem os dois referidos diplomas), natural do Além-Tejo, e domiciliado por mais de sete anos na Comarca de São João das Duas Barras, pode ser recebido do Soberano Congresso como representante da mesma comarca”.
Enquanto Portugal reconhecia a emancipação do Norte Goiano e seu representante junto às cortes, em Goiás, a instalação da Junta Administrativa na capital, em abril de 1822, acelerou as medidas para conter os ânimos dos nortistas, com o envio do deputado Luiz Gonzaga de Camargo Fleury para o norte a fim de dar cabo ao movimento.
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