Luiz Armando Costa

Somos todos reféns do calendário muito embora não tenhamos poder sobre o tempo, uma constante que está aí enquanto passamos. No jornalismo, o tempo é fundamental. 

Antes porque existiam o tempo de entrega e distribuição dos jornais, os horários de ônibus e aviões, que impunham o tempo das rotativas, que determinava o tempo da fotomecânica, da revisão, da composição, da diagramação, da redação e da reportagem, o início de tudo.

Hoje não se vê este tempo. Mas ele está lá contando décimos de segundos entre uma postagem e outra nas redes sociais. De pessoas sem tempo para livros ou para apenas observar o tempo.

O contador de horas aponta que na próxima terça, a independência do Estado do Tocantins completa 33 anos. Para não perder o vício jornalístico de escrever antes e depois do fato, antecipo em seis dias impressões que talvez fossem mais pertinentes no próprio dia 5 de outubro. Caso contrário, seria furado pelo tempo.

A criação do Estado em 1.988 encontrou-me no estado de “goiano”. A posse dos deputados, eleição da mesa diretora e do governador no cargo debaixo de um calor de 50 graus e sob o teto de zinco de um ginásio em Miracema também não é coisa que se deixe de guardar na memória.

Deputados suando a bicas e jornalistas e políticos goianos disputando o pouco de pista da primeira capital provisória de volta Goiânia para uns petiscos nos barzinhos da Praça Tamandaré. Observada de longe, a posse de um governo em um novo Estado era uma miragem diferente do calor e das deficiências regionais.

Implantar um governo no meio do nada não deve ter sido fácil. O lançamento da pedra fundamental de Palmas menos de um ano depois mostrou a cara do nortense. No meio do cerrado chegavam de ônibus, caminhões, cavalo, a pés, disputando o mesmo prato de carne assada com feijão tropeiro e arroz que acabou antes do meio dia.

O que se viu depois, entretanto, não tinha quase nada do que queria o sertanejo na luta de anos. Não era aquilo que a Norma defendia em sua logotípia. Ou mesmo  Antônio Poincaré no seu Porto Nacional Jornal, Catão Maranhão com A Tarde, ou Ecos do Tocantins, de Trajano Coelho Neto.

Tudo indica que queriam autonomia. E não um Estado manejado por grandes empresários que tornaria a população refém de um capitalismo selvagem, como ocorre três décadas após sua criação.

Empresários são fundamentais para o desenvolvimento de uma região. Sem capital, não existe trabalho nem renda aos rentistas, dado que a remuneração da força de trabalho não é renda. O Estado é que deveria ter sido menos capital, manejado o empresariado para também dividir.

O resultado é uma das unidades da Federação com maior concentração de renda. Ainda que tenha possibilitado algum progresso, a população mereceria mais pelo que entrega à sociedade política de seus parcos recursos ainda existentes.

Como o tempo é uma constante, sempre se terá que a qualquer tempo tudo se modifique e o Tocantins se transforme no objeto que norteou luta tão intensa.