Finalizamos mais um ano civil marcado por diversos desafios para os professores brasileiros. Há redes públicas de ensino em que o ano letivo ultrapassará o atual calendário civil, pois o enfretamento da pandemia da Covid-19 resultou em ajustes no calendário e no adiamento das férias escolares. Sobre esse fato, ressaltamos que não se trata de um privilégio de algumas escolas públicas, mas uma evidência da desigualdade de oportunidades para as famílias pobres do Brasil. Ainda assim, a ocasião nos proporciona uma oportunidade para refletirmos ou, em outras palavras, para fazermos um breve balanço deste ciclo.

Algumas pautas permanecem na agenda de luta dos professores, a exemplo da valorização do magistério, que envolve itens cuja descrição não é possível detalhar aqui. Mas lembremo-nos da necessidade de investimento na formação de professores e nas suas condições de trabalho, sejam em escolas públicas ou privadas. Também faz parte desta agenda uma remuneração justa, que seja compatível com a inquestionável relevância do cargo para a educação de qualquer pessoa, independente da classe social a que pertença.

As autoridades governamentais precisam ser cobradas para que a pauta pela educação seja respondida e esse é um compromisso a ser assumido pelas famílias brasileiras, as quais são aqui convidadas para aderirem à luta pela valorização do magistério, das nossas escolas e das nossas universidades. A qualidade da formação inicial e continuada garante professores preparados para enfrentar os constantes desafios emergentes no local de trabalho, inclusive em situações inesperadas do tipo da urgência pandêmica.

Em 2021, os professores trabalharam com modalidades diferenciadas de ensino em resposta ao contexto adverso da pandemia. Por alguns meses, ministraram aulas remotas para estudantes que puderam se utilizar de serviços de internet ou, até mesmo, de transmissões de aulas por televisão e por rádio. Foram produzidos e disponibilizados roteiros de estudos pelas escolas para se garantir o acesso a materiais impressos aos estudantes. Por razões diversas, o ensino remoto não esteve disponível para todos, infelizmente foi negado para inúmeras famílias. Assim, essa modalidade também se caracterizou como uma força de exclusão escolar, principalmente por causa da inércia de autoridades governamentais. 

O retorno progressivo, seguro e necessário ao ensino presencial trouxe desafios diferenciados, pois as aulas convencionais não foram retomadas plenamente. A manutenção do distanciamento espacial e o uso de máscaras, por exemplo, interferiram nas estratégias de ensino. Inúmeras perguntas surgiram e as respostas estão em elaboração: como proporcionar atividades dinâmicas, com estudantes reunidos em pequenos grupos, sem aproximá-los fisicamente? Como alfabetizar sem o compartilhamento de materiais pedagógicos pelas crianças ou ainda utilizando máscaras que impedem a visualização dos movimentos labiais para a realização dos diferentes sons da língua? Também é legítimo questionar: como finalizar mais um ano letivo sem abraçar os alunos concluintes, que passaram a usufruir do status de egressos?

Sigamos, professores! O percurso se renova com mais um ano civil em que teremos oportunidades de escolhas, inclusive para fazer decisões políticas nas eleições vindouras. Lembremo-nos das autoridades governamentais que, nos últimos anos, ignoraram os educadores deste país ou, pior, que despenderam esforços para mobilizar seguidores fanáticos contra os profissionais do magistério. Ficam nossos sinceros votos de renovação na certeza de que a educação é a verdadeira arma para empoderar e transformar uma nação! A força está nas mãos do povo brasileiro sofrido! Unamos nossas forças e lutemos!

Wagner Rodrigues Silva
é Doutor em Linguística Aplicada e docente na Universidade Federal do Tocantins (UFT), Câmpus de Palmas.