Gustavo Ferreira Amaral 
Estudante do curso de Direito na UFT e Presidente do DCE

Maria Santana Milhomem
Professora do Curso de Direito e pró reitora de Extensão da UFT
 
Começo esta poesia 
Com muita dignidade
É o jovem camponês
E o jovem da cidade
Na luta pelos direitos
Por outra realidade [...]
-  Severino Santos Terto
 
 
...] Com o rotulo que vivo
Sou fora da lei
Se tú tem um motivo
Nóis tem mais de cem
Eu rasgo teu escrito e grito
Lei pra quem?
- MC Tha
 
 
Pensar na juventude em tempos de pandemia é um desafio. Como humanidade, temos ao longo do tempo, uma tendência a generalizar e colocar as coisas em “caixinhas”, mais ou menos determinadas, que podemos chamar de clichês. Isso poupa energia e fomos educados assim. Porém, ao analisar com maior critério, percebemos que existem juventudes, isso mesmo, no plural, ou seja, uma variedade de grupos etários, com diferentes contextos geográficos, econômicos e sociais. Refletir sobre juventudes, sobretudo em tempos de crise, é levar em conta que temos cores, etnias, classes e territorialidades, que fazem os impactos dessa crise nos atingir de formas diferentes.
 
No Brasil do século XXI, ser jovem, negro, pobre e periférico são consequências diretas da nossa história de colonização, escravidão, genocídio, etnocídio e eugenia. A juventude é um limbo social que foi construído ao longo da história e em contextos distintos, um rito de passagem, uma transição da infância para a vida adulta. Nesse período, direitos adquiridos com muita labuta, como educação e lazer, são direcionados para uma formação física, intelectual e social. No entanto, esse período é sobretudo um direito à pausa.
 
Se pensarmos no período medieval, esse conceito de juventude nem existia, as crianças eram obrigadas a casar com 12 anos ou até menos. Durante um longo tempo na Europa, hoje vista por muitos com deslumbramento, as crianças eram obrigadas a trabalhar em minas de carvão, nesse período a mortalidade era alta e a expectativa de vida era baixíssima — cerca de 40 anos.
 
Neste sentido, tivemos avanços tecnológicos inimagináveis, que levaram nossa capacidade de produção a um nível que a fome não tem razão de existir. Temos como humanidade uma riqueza acumulada de proporção tal que a desigualdade nos parece irracional. Tendo isso em mente, num país de cerca de 14 milhões de desempregados, uma pandemia com mais de 40 mil mortos e em curva ascendente, a população sem condições materiais de fazer uma quarentena digna, o comércio aberto transformando trabalhadores João e Maria em números no boletim epidemiológico e o sistema de saúde beirando o colapso, nos perguntamos: “de que serve todo esse progresso tecnológico, se os valores permanecem os mesmos de sempre?”.
 
A pausa supracitada, como direito dos jovens, é justamente um tempo para pensar na sua identidade, sua condição socioeconômica e da sua família e seu contexto social. Pausa essa que muitos de nossos progenitores não tiveram. Tempo para refletir e meditar no passado que nos constituiu, nos nossos ancestrais e nas lutas que travaram para permitir que estivéssemos aqui hoje, com o passado nas costas e o presente nas mãos. 
 
Hoje, as juventudes sofrem o peso da realidade acachapante, principalmente para a periferia, preta e pobre, na mira de uma política de abandono e morte. 
Nesse interim, temos a resistência como mecanismo de dizer basta! Temos um desejo de mudança em comum, de outro mundo possível, onde a vida não seja uma reprodução dos erros do passado, mas criação de possibilidades que contemplem nossas demandas a partir do reconhecimento e reparação de todos esses erros, tão presentes no nosso cotidiano, para que a luta de nossas mães, avós e antepassadas não seja em vão.