Wagner Rodrigues Silva
Doutor em Linguística Aplicada, Docente da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Câmpus de Palmas e pesquisador do CNPq.
 
A esperança de cura para a Covid-19 tem sido depositada nas universidades e centros de pesquisa. Aí são produzidos alguns equipamentos ou protocolos para aliviar a rápida propagação do vírus SARS-CoV-2. Assim como em outros países, não tem sido diferente no Brasil. As ciências humanas também se integram ao enfretamento da pandemia, a exemplo da Linguística Aplicada. 
 
Nesse contexto, tenho desenvolvido o subprojeto de extensão "Interlocuções intergeracionais pela inovação linguística na pandemia da Covid-19", desenvolvido como ação emergencial com algumas alunas da Licenciatura em Pedagogia, na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Neste momento, integra as ações desenvolvidas pela Universidade da Maturidade (UMA), sob a coordenação da Profa. Dra. Neila Barbosa Osório e do Prof. Dr. Luiz Sinésio Neto. A UMA é um grande projeto acadêmico desenvolvido em quatro cidades tocantinenses, acolhendo mais de 400 idosos na UFT. 
 
O subprojeto foi proposto para contribuir com o alívio do sofrimento de idosos em isolamento social, com rotinas alteradas, interrompendo, inclusive, as atividades presenciais na UMA. Foi desenvolvido a partir do trabalho com a produção escrita de cartas por alunas da Licenciatura em Pedagogia, futuras professoras polivalentes da educação básica. As cartas foram endereçadas aos mencionados idosos vinculados ao Câmpus de Palmas, e encaminhadas como áudios gravados por aplicativo de WhatsApp. As futuras professoras experienciaram práticas de escrita, reescrita, leitura e de reflexão sobre a gramática da língua portuguesa, aprimorando a própria formação linguística, podendo resultar em outros desdobramentos futuros, quando do efetivo exercício do magistério após diplomadas.
 
Alguns resultados preliminares já foram gerados. Assim como as alunas da Licenciatura em Pedagogia, percebi que, apesar das restrições impostas e do desconforto do isolamento, os idosos demonstram disposição para ocupar o tempo com diversas habilidades acumuladas ao longo da vida, a exemplo da produção de cordéis, artesanatos e atividades físicas. Diante do abatimento psicológico de algumas jovens, adoecimento frequente na universidade, os idosos demonstraram disponibilidade para dar conselhos, compartilhar experiências acumuladas e histórias de superação, resultando no alívio do sofrimento das próprias acadêmicas, o que se revelou como uma grata surpresa, pois não foi previsto no planejamento da ação emergencial. 
 
Os idosos se utilizaram de diferentes textos para responder às cartas em áudio, a exemplo do envio de mensagens escritas no aplicativo, arquivos de áudio, vídeos com registros de atividades físicas e, inclusive, cartas em áudio semelhantes às recebidas. Outros resultados foram produzidos e, certamente, inúmeros outros surgirão até o retorno presencial de todos à universidade. 
 
A interação pela linguagem – a partir da escrita, da oralidade e do uso de recursos digitais – ilustrou algumas contribuições da Linguística Aplicada e revelou que a universidade pública se mantém junta à população em contexto adverso. Realço que os professores universitários atuam colaborativamente não só em atividades de ensino, mas de pesquisa científica e de extensão. Essa última é desenvolvida quando trabalham diretamente com a comunidade externa à universidade.