O Diário Oficial de ontem, terça, traz publicada a Lei 3880, de 11 de janeiro de 2022, que dá ao Hospital Regional de Araguaína o nome de Olyntho Garcia de Oliveira que vem a ser avô do deputado estadual Olyntho Neto e pai do advogado João Olyntho (pai de Olyntho Neto). 

João Olyntho (o filho) teve, há três anos, prisão decretada pela Justiça no escândalo do lixo da Sancil (de sua propriedade), contratada sem licitação, por R$ 500 mil mensais para coleta de lixo hospitalar no mesmo Hospital Regional de Araguaína. 

Coletava  e enterrava o lixo numa das fazendas da família. Se defendem das acusações. Olyntho, o neto, foi investigado por crime ambiental, suspeito de armazenar indevidamente lixo hospitalar. Tudo em Araguaína do Hospital.

A aprovação sofista da homenagem pelos parlamentares com tais ingredientes e a sua sanção por parte do governador interino é, indiscutivelmente, demonstração da capacidade inesgotável do poder público de hipostasiar realidades. 

Expondo, desta forma, o contubérnio entre Legislativo e Executivo, numa relação mais próxima de confraria que de exercício de funções asseguradas por poderes constitucionais.

Ainda que não se tenha, do ponto de vista legal e moral, nada que deponha contra o homenageado, a história irá registrar seu protagonismo e as circunstâncias que o guindaram à situação, que aconselhariam parlamentares fossem menos corporativos e mais deputados.

Se mirassem mais no ex-governador goiano João D´Abreu (natural de Taguatinga) que empresta nome ao prédio do Legislativo do que nos seus umbigos salientes ou em afetos cambiais que transformam o poder de legislar numa xepa, talvez pudessem apresentar-se de cabeça erguida na história.

Os estudantes, no futuro, ademais, ao pesquisar a origem do nome no maior hospital da cidade (e da região Norte do Estado), terão ali, por simples verificação de árvore genealógica, causas e consequências presentes na negação de princípios parlamentares num determinado período do Estado.

Essa capacidade metafísica de tentar passar do pensamento à existência que governos e deputados tem imprimido às suas ações – que entende-se será anotada com a devida relevância não muito distante - não está apenas em homenagens.

O governo pediu a suspensão de encaminhamento de seis dezenas de milhares de vacinas. Argumentação: vacinas estocadas no Estado.  Os números indicam uma nova onda de covid-19 e não há qualquer movimento dos órgãos de saúde pública para estancá-la, dando-se a impressão de que vacinas estocadas fossem demonstrativo de falta de demanda. Ou de singular desempenho.

Hipostasia pura. No Estado a vacinação (duas doses) só foi aplicada em 51,85% da população até ontem, quando o covid-19 registrava no Estado um crescimento de 22% na média móvel de óbitos dos últimos sete dias. A média de vacinação no país (duas doses) era até ontem de 67,86%. E o Tocantins se mostrava como um dos 13 Estados que não estavam informando o número de vacinados.

E não é por falta de estrutura. Em 2021, por exemplo, a cobertura vacinal da gripe Influenza no Estado foi de 93,3%. Foram aplicadas 498 mil doses para um alvo de 534 mil pessoas. O dado é sugestivo de que há problemas na saúde pública na covid-19.

Muito explícito na vacinação contra o covid-19 onde o governo recebeu 2,6 milhões de imunizantes (conforme o Ministério da Saúde) e só aplicou até agora 30% das vacinas encaminhadas. E com os casos recrudescendo. 

Os 3,1 mil novos casos registrados em onze dias (uma média de 284 a cada 24 horas) projetam 8.500 novos casos no final do mês. Um número maior que a média mensal de casos (7.600) verificada em 2020, primeiro ano da pandemia quando as vacinas ainda não existiam.

Conclusão óbvia: a sociedade política tem tratado a pandemia como um palanque menos interessante que as cheias dos rios, que benefícios a servidores públicos ou nomes de hospitais.