Quando retornou de um doutorado feito na prestigiada Universidade inglesa de Cambridge, o professor Eduardo Giannetti da Fonseca recebeu várias ofertas de trabalho. Entre tantas opções a sua frente, acabou aceitando a proposta do empresário mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann. Não deu certo. Pouco tempo depois o contratado pediu demissão ao contratante.

Confesso que fiquei surpreso com essa decisão do doutor Eduardo. Pensei cá com os botões: por que razão um intelectual tão qualificado como ele não conseguiu se adaptar a uma empresa pertencente a um excepcional  empreendedor reconhecido internacionalmente ?

Vamos encontrar essa resposta num dos livros  do próprio Eduardo Giannetti (Se não me engano  o livro se chama “Autoengano”). Neste, o autor revela sua rápida experiência com o ocorrido. No seu entender o  avassalador  ritmo de trabalho  acabava sendo um empecilho ao seu perfil intelectual .

Além disso , percebeu o autor de “Elogio do Vira-lata” o incomodo que trazia  aos colegas nos seus raros  momentos de ociosidade  que dispunha  para refletir.   Eduardo Giannetti simplesmente se dedicava a ler  algum livro de seu interesse .

O mineiro João Guimaraes Rosa é, a lado de Machado de Assis,  um dos  dois maiores escritores do Brasil. Após a conclusão do curso medicina, Guimarães Rosa optou pela carreira diplomática e nesta se defrontou com uma competente organização burocrática. Estejam certos de que o corre-corre do Itamarati não condizia com o talento literário do autor do clássico “Grande Sertão  veredas”. Motivo: necessitava esse grande escritor do mesmo ingrediente que   fez falta ao professor Eduardo Giannetti em sua breve vida de executivo: tempo para dar asas a uma prodigiosa imaginação cujo  talento literário   viria a produzir    verdadeiras obras primas.  O mundo rosiano ganhou  a universalidade no momento em os inúmeros contos e livros do diplomata escritor foram traduzidos para vários idiomas.  Coisas do ócio criativo.

O  respeitado embaixador Rubens Ricupero em  sua obra-prima da diplomacia Brasileira—Leia-se:--”A Diplomacia na construção do Brasil”—revela como Guimarães Rosa driblou a burocracia do Itamarati para conseguir  o fundamental ócio criativo, tão necessário para construção do mundo do seu literário . Diz ele em seus escritos que”[Guimarães Rosa] tinha escolhido como remanso burocrático onde nada acontece e lhe permitiria escrever tranquilamente seus romances durante os 11 anos que durou sua chefia.”

Em conclusão:  a ociosidade criativa é fundamental    a reflexão. É  o parar para pensar o combustível que induz o pensamento criativo dos grandes intelectuais.