Carlos Alberto Di Franco
Jornalista. E-mail: difranco@ise.org.br
 
Sentir o cheiro da notícia. Persegui-la. Buscar novas fontes e encaixar as peças de um enorme quebra-cabeça para apresentá-lo o mais completo possível. Dentre as competências necessárias para exercer um bom jornalismo, algumas parecem ser inatas e, por mais que se tente aprender, inútil será o esforço. É assim o tal “faro jornalístico”. Uma capacidade quase inexplicável que alguns profissionais possuem de descobrir histórias inéditas, de furar a concorrência e manter pulsando a certeza de que é possível produzir conteúdo de qualidade que sirva ao interesse público.
 
Nunca se pôs em xeque o papel essencial do instinto jornalístico. Nem eu o pretendo fazê-lo agora. Como já venho reiterando há tempos neste espaço, apenas essa vibração será capaz de devolver a alma que, por vezes, percebo faltar ao trabalho das redações. O que quero é acrescentar um aspecto que julgo importante nesta discussão: na era digital, a intuição pode e deve ser apoiada pelos números.
 
Realidades que pareciam alheias aos negócios da mídia estão cada vez mais próximas dos veículos. É o caso do Big Data. A cada dia os acessos digitais aos portais de notícias geram quantidades incríveis de dados sobre o comportamento de nossas audiências, mas ainda não fomos capazes de enxergar o potencial que há por trás desta montanha de informação desestruturada. Ao fim de um dia de trabalho, qualquer editor está habilitado a responder quais foram as reportagens mais lidas. Mas e depois disso? Continuamos incapazes de interpretar adequadamente todas essas cifras e utilizá-las em nosso favor.
 
Converso, frequentemente, com executivos e gestores de veículos de comunicação, todos eles responsáveis pelo processo de transição digital em suas empresas. Todos, sem exceção, estão desejosos de encontrar novos caminhos de monetização. Cresce a certeza de que as verbas publicitárias não retornarão aos níveis de antigamente e, portanto, os ingressos deverão ser alavancados prioritariamente por meio do conteúdo digital. Trata-se de um grande desafio: olhar para a cobertura de seus veículos e questionar-se se há valor diferencial no que estão entregando aos seus consumidores. Afinal, ninguém pagará por aquilo que pode encontrar de forma similar e gratuita na rede.
 
Impõe-se colocar  a audiência no centro do processo. Já não basta que definamos nós o que precisam os consumidores de informação. É preciso ouvir o que eles têm a dizer. Interagir com eles. Captar suas sugestões. Aceitar suas críticas. O fenômeno das redes sociais estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para o seu leitor real. 
 
O revigoramento do negócio passa também pela recuperação do rigor do velho ofício. O engajamento mina a credibilidade da imprensa. É preciso buscar fórmulas para uma cobertura mais serena, equilibrada e propositiva, relacionada aos problemas reais dos leitores.
 
O renascer do nosso setor passará pela construção de uma identidade editorial sólida, com apoio da tecnologia que permita escutar a voz dos consumidores.