Luiz Armando Costa
 
A distância é a afirmação daquilo que ela distancia. Com efeito, a saúde afirma a doença quando ela faz de sua distância entre ela, objeto de afirmação. Nos últimos dias a população tem sido levada pelo poder público a inverter perspectivas com a tentativa de demonstração, em termos relativos de percentuais, que a contaminação da Covid-19 seguiria viés de queda no Estado. Para outros, o vírus desaparecera.
 
Os números absolutos concorrem entretanto, na medida da distância que se tenta impingir entre contaminados e não contaminados, para afirmar, paradoxalmente, a gravidade da doença e não a suavidade da cura. E, com isto, a sua afirmação como enfermidade grave e não da saúde, como tem aceito a manada que ocupa as ruas, bares e lugares de recreação como se o vírus tivesse sido eliminado.
 
Haveria, por certo, pelos números dos órgãos de saúde pública maior distância entre a saúde e a doença levando ao raciocínio de que esta poderia encobrir medidas, negando, por consequência, a supremacia da cura e de menos contaminados sobre a incidência do vírus que tem prevalecido.
 
Seria indício de encurtamento da distância entre saúde e doença, não sem razão, o avanço da Covid-19 no Estado. Uma diminuição da medida entre saudáveis e contaminados, por lógica, indicaria uma população mais próxima do vírus do que da cura. E não o contrário.
 
No Estado foram registrados de abril a 15 de agosto 36 mil e 478 contaminados e 506 óbitos. De 15 de agosto a 15 de setembro foram 24 mil e 247 novos casos (60.725 ontem) e 316 óbitos (eram 822 no boletim de ontem). Em um mês, um crescimento de 63% nos óbitos e 67% nos casos.
 
A mágica da redução se dá quando se compara, em termos relativos percentuais, 15 de julho com 15 de agosto. No período, os óbitos cresceram 86% contra 127% de contaminados. Ou com 15 de junho (com 15 de julho), 127% de crescimento de casos e 99% de avanço nos óbitos. Como agosto/setembro, a equação política estaria pronta: redução.
 
O problema é que, por exemplo, os 127% de crescimento de caso (junho/julho) significaram 7.137 novos contaminados no período. Os 67% de crescimento (metade do percentual de crescimento) de casos entre agosto/setembro representam 24 mil e 247 novos contaminados. Mais que o triplo do número de doentes.
 
Os 99% de crescimento dos óbitos (junho/julho) eram 135 mortes naquele mês. Já os 63% de crescimento dos óbitos (agosto/setembro) foram 316 vítimas fatais. Quase duas vezes e meia o número de óbitos com um índice de crescimento 63% menor.
 
Como resta numericamente demonstrado, a distância entre saúde e doença está ficando menor e não maior. Dependendo do referencial, pode-se estar mais longe da doença ou da cura. Ainda que os índices percentuais espelhem queda, o índice de contaminação é assustador. 
 
Não à toa, o Estado tinha ontem um coeficiente de contaminação da ordem de 3.806,9/100 mil habitantes contra 2.067,9/100 mil habitantes de todo o país. De outro modo, a incidência da Covid no Tocantins é praticamente o dobro da tragédia nacional, o segundo país do mundo com mais contaminados e óbitos. E a turma indo pra galera.