Luiz Armando Costa
 
Há mais que indícios, evidências de que tão cedo o país não saia da crise. Enquanto o Congresso aprovava (com o apoio da quase unanimidade da bancada tocantinense) R$ 4,9 bilhões para campanhas eleitorais (mais que o dobro dos R$  2 bilhões da eleição anterior), destinava R$ 1,7 bilhões para reajustes salariais de policiais, autorizava, de forma temporária, auxílio de R$ 400 em substituição ao Bolsa Família, que tinha prazo indeterminado, mandava R$ 16 bilhões para o orçamento secreto e, de quebra, para poder financiar isto tudo, porque dinheiro não nasce em árvore, apropriava-se de  alguns bilhões de saúde e educação. 
 
É a categoria que vai às urnas no próximo ano para buscar a eleição ou reeleição e, convenhamos, tem tudo para conseguí-lo justamente porque aquilo que o cidadão comum considera ilegal e ilegítimo é na mesma medida a moeda que tem para ter, novamente, os votos. E como o conseguem? Ora, ao cortar recursos da educação, por exemplo, favorecem a manutenção da falta de conhecimento de que sem ela não se muda realidades.
 
Evidente que com um orçamento per capita (2022) estimado em R$ 22 mil anuais (R$ 1,8 mil mensais por cabeça) – OGU de R$ 4,7 trilhões – o país não necessitaria de esmolas ou ficar sem esparadrapos nos hospitais. Um governo federal que vê ao seu lado um PIB de R$ 17 trilhões (US$ 5 trilhões) mas que sustenta 13 milhões de desempregados e outros 17 milhões de famintos carentes de ajuda oficial.
 
A distorção, como é claro, deriva da falta de compromisso da sociedade política com a sociedade civil. No Tocantins, por exemplo, cujo orçamento para 2022 elevou em quase R$ 400 milhões as despesas com salários, perto dos R$ 500 milhões da correção orçamentária de um ano para outro, o governo interino abre os cofres para reajustes salariais de servidores quando um milhão de pessoas dependem do auxilio emergencial e não tem emprego que dirá plano de saúde ou aposentadoria com salário integral.
 
Enquanto aprovavam o orçamento de 2022 na  bacia as almas, os deputados destinaram recursos para reajustes salariais no Tribunal de Contas, no Ministério Público e no próprio parlamento, enquanto o Executivo conta caraminguás para pagar atrasados da correção  inflacionária, promoções e progressões de lei.
 
No mesmo orçamento em que se eleva em 6,3% as despesas com salário de servidores, projetando mais benefícios aos funcionários, mantém-se os mesmos recursos de 2021 para 2022, na saúde, que obteve para o próximo ano iguais R$ 1,9 bilhão projetados no orçamento para o ano em curso (2021). Ou seja, nem a correção da inflação o Executivo e o Legislativo operaram nos recursos que bancam o sistema público de saúde em plena pandemia.
 
Obviamente uma distorção como a intenção do governo de retomar o curso de reajustes salariais e de planos de cargos, elevando a despesa de pessoal enquanto reduz aquelas que dizem respeito à  maioria da população, iniciando pelo setor de segurança pública que foi, com pouca margem de dúvida, o moto-contínuo e gênese do processo que levou ao afastamento do governador. Num raciocínio primário, garantidor, por outro lado, de interinidades sem problemas até a definitiva solução. É Jair Bolsonaro fazendo escola.