Criminosos punidos pelo trabalho saneador da operação Lava Jato e posteriormente anistiados por aqueles que teriam o dever de proteger a sociedade, começam a construir narrativas com a finalidade de apagar os fatos, recriar a história e transformar delinquentes em modelos de virtudes e exemplos de boa política.

Argumentam, armados de um cinismo cortante, que a Operação Lava Jato “com sua sanha punitiva” destruiu empresas, criminalizou a política e condenou inocentes. Como se não existissem confissões documentadas, provas robustas e milhões devolvidos aos cofres como resultado de acordos. Quem devolve, por óbvio, reconhece o roubo. Para essa gente, no entanto, tudo isso precisa ser apagado com a pedagogia do mestre Goebbels, nazista cruel e braço direito de Hitler: “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.  Mentem. Compulsivamente. Mentem com voz melíflua, sem ruborizar e mover um músculo do rosto. São exímios na arte do engodo.

Têm aliados importantes nas instituições da República. Isso ficou evidente, mais uma vez, na recente decisão da Câmara dos Deputados que detonou a Lei da Improbidade, o mais importante instrumento anticorrupção então em vigor no Brasil. O pedido de urgência de votação começou a ser votado às 17h11 e se concluiu às 17h19.  E não estamos falando em urgência para acelerar reformas essenciais para a modernização do Brasil ou iniciativas visando salvar vidas ou superar as terríveis desigualdades sociais. Não, amigo leitor. O objetivo foi abrandar ou eliminar penas. O relatório final elimina a imprescritibilidade do ressarcimento ao dano ao patrimônio público -possibilidade de pedir a qualquer tempo a devolução de valores devidos. Um golaço da corrupção.

O combate à corrupção é uma das demandas mais fortes da sociedade. A corrupção algema a sociedade. A corrupção desvia para o ralo da bandidagem recursos que podiam ser investidos em saúde, educação, segurança pública, etc. A corrupção empurra crianças famintas para a catástrofe da prostituição infantil. O Brasil não vai mais contemporizar. Cabe a nós, jornalistas e formadores de opinião, assumirmos o papel de memória da cidadania. Não podemos deixar cair a peteca. Revisitaremos todos os meandros daquele que já foi definido como o maior escândalo da corrupção da história do mundo: o Petrolão, um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, ocorrido durante o governo Lula e Dilma, que envolvia cobrança de propina das empreiteiras. Trata-se de um dever ético inescapável.

Mas, para além das trincheiras internas, a guerra contra a corrupção brasileira ganhou dimensão internacional. Diante da dicotomia entre as reiteradas tentativas de se estabelecer caminhos para a impunidade (a recente decisão da Câmara dos Deputados é um exemplo redondo) e as iniciativas internacionais de avançar com os tratados e cooperações para o combate à corrupção global, os poderes públicos brasileiros vão ser forçados a mudar.

A corrupção como modelo de negócio está com seus dias contados. A governança do roubo e da delinquência será um suicídio político e empresarial. Nós, jornalistas e formadores de opinião, temos o dever profissional e ético de jogar muita luz nas trevas da corrupção. Trata-se de um crime que agride, paralisa e mata.