O Estado aderiu ao grupo de 14 governadores que decidiu não endossar o decreto do governo federal que, na prática, libera, quando flexibiliza a mais não poder, o porte de armas no país. Uma decisão coerente e responsável do governador Mauro Carlesse.

Não era de se esperar outra ação, observados o fosso social e o expressivo avanço dos indicadores da violência. Ambos identificáveis a olhos vistos no Estado e registrados pelo Mapa da Violência/Fórum Nacional de Segurança e IBGE. Mais armamento na praça, não há dúvidas, mais violência.

No Tocantins, conforme o IBGE, 76% da população (1 milhão e 200 mil pessoas) tem acima de 18 anos. Pelo decreto, poderiam comprar uma arma e sair por aí fundamentados na confusão entre posse e porte que o decreto proporciona. Um decreto ilegal por alterar o Estatuto do Desarmamento sem a apreciação do Congresso.

O número de pessoas que poderão adquirir uma arma é, na prática, similar aos 70,7% da população economicamente ativa (1,1 milhão). Sendo que desta, algo próximo de 40% forma o contingente de desocupados, divulgado na semana passada pelo mesmo IBGE. Ingrediente para uma fórmula explosiva. Arma ao alcance da mão, emprego longe de vista e fome rondando.

Somando os elementos dessa equação ao índice de desigualdade divulgado esta semana por estudo da Fundação Getúlio Vargas (o Estado já na segunda metade dos mais desiguais avançando para o máximo do índice 1) tem-se, em larga medida, a situação do caldeirão que cozinha as forças produtivas e circunstancialmente improdutivas da região.

É um segmento que não vê ações que transformem a retórica política e econômica em renda, arroz e feijão. Em oposto ao PIB per capita de cerca de R$ 20 mil (um Estado rico/PIB estimado de R$ 31 bilhões) se contrapõe a renda nominal domiciliar mensal de R$ 1,045,00. Ou seja: uma renda per capita nominal de R$ 261 por mês. Um quarto do salário mínimo.

Esse cidadão aí que vai ter uma renda média per capita de R$ 3 mil e 100 no ano não entra nas estatísticas da riqueza do PIB. Só se dedica aos R$ 20 mil produto da divisão de todas as riquezas pela população.

Porém, irá desembolsar, também estatística e proporcionalmente, o equivalente a R$ 1 mil e 800 apenas de impostos estaduais, valor correspondente ao orçamento/impostos/contribuições (R$ 2,8 bilhões) per capita constante da Lei Orçamentária de 2019.

De outro modo, estatisticamente, esse cidadão terá para viver em 2019, na verdade, descontado o seu quinhão per capita de impostos estaduais, o equivalente a R$ 1 mil e 300 no ano. Ou: R$ 108 a cada mês. Sem somar os impostos federais e municipais.

Como se nota, há algo errado num país que prioriza armar a população a retirá-la da miséria em que se encontra, na contramão dos superávits da balança comercial. No Estado, não é diferente: o poder público vai retirar da economia da população R$ 10 bilhões este ano. E, ainda assim, continua com 55% dessa  mesma população situados na pobreza e extrema pobreza, conforme relatório do Banco Mundial.