Guilherme Augusto Martins Santos
Advogado, professor universitário, Mestre em Direito, Diretor Geral da Escola Superior da Advocacia da OAB/TO, Coordenador do Núcleo de Educação pela Paz do UniCatólica.
 
“O que importa nessa vida são os afetos, o resto é cenário”, já diria o professor Marcelo Predebon. Acrescento ainda, o que vale da vida são as conexões de almas humanas. A verdade é que a forma como nos conectamos as pessoas, às suas necessidades e sentimentos é que nos tornam humanos em essência. 
 
Quando perdemos a capacidade de enxerga no outro a sua humanidade, nos descambamos para um mundo onde reina o individualismo, o egoísmo predatório e por consequência as guerras.
 
Ao analisarmos, atentamente, as motivações das guerras, notaremos que a raiz desse mal está na capacidade de alguns grupos - quase sempre políticos, em nome de seus povos, ainda que sem legitimidade popular para tanto - de se desconectar de outros seres, como se pudesse desconsiderar a condição humana de outros, tornando-os coisas, e muitas vezes coisas matáveis e desprezíveis. 
 
É comum, em períodos hostis como esse que estamos vivenciando pela pandemia, que a cultura da dominação se escancare, de forma velada e também descaradamente, gerando uma onda de desconexão alienante, um salve-se quem puder. 
 
Para impor e manter essa perversa cultura de dominação não é muito difícil, basta inibir a capacidade das pessoas se conectarem para vida, desconsiderando os valores humanos.
 
Esse é o modus operandi das guerras!
 
Já imaginou se o combatente, durante a guerra, considerasse o seu oponente como um ser humano?! Certamente, se ele pensar assim não ajudará, é mais fácil pensar no oponente como um perigo, uma ameaça, um infiel, uma coisa desprezível.
 
Quase sempre as guerras, politicamente, são justificadas pela defesa dos interesses de uma nação, de forma mais específica dizem que é a defesa dos seres humanos que integram aquelas nações, como se pudéssemos categorizar os povos e os seres humanos, numa logica em que houvesse seres humanos superiores a outros.
 
Nesse período de pandemia, todos nós, povos deste planeta, fomos colocados numa mesma situação de fragilidade, com as mesmas características de tempos de guerra. Isso fez surgir novamente, e potencializou, essa desconexão egoísta de alguns povos que querem se “salvar” e “salvar” seus compatriotas, mesmo que seja à custa do sacrifício de outros humanos.
 
Toda essa visão desumana é alimentada e retroalimentada pela dominação do poderio capitalista que estamos submetidos. Diga-se de passagem, nem as repúblicas socialistas e/ou comunistas, escapam desta lógica da economia predatória.
 
Traduzindo essas reflexões...
 
No início da pandemia e ainda hoje, no Brasil e em todo o mundo, passamos a conviver com a escassez e o desabastecimento de alguns gêneros alimentícios, medicamentos, materiais hospitalares em geral entre outros, por conta da escalada egoísta de algumas pessoas, empresas e governos que insistiam em estocar esses produtos, ainda que isso significasse a morte de muitos que não tivesse acesso a esses insumos.
 
Aparelhos respiradores então, nem se fala. Assistimos apáticos a guerra comercial instalada entre os países, e dentro dos países a guerra dos estados, nos estados a disputas dos munícipios e, mais além, embates comerciais desleais de grandes redes hospitalares, conforme relataram os exaustivos, mas necessários, noticiários. Sem falar no oportunismo e na corrupção que girou (e ainda gira) em torno dessas negociações sui generis. Um verdadeiro salve-se quem puder ou lucrasse quem puder.
 
Até o que não existe já foi, egoisticamente, comercializado. Estou falando das promessas de vacinas para imunização ao novo coronavírus, que antes mesmo de finalizada a sua tramitação científica, os Estados Unidos e o Reino Unido já compraram, inclusive com depósitos bilionários prévios, quase que a totalidade da produção mundial futura destas vacinas, que nesta quadra histórica, significa sobrevivência e a retomada efetiva do novo normal. 
 
Talvez os povos americanos e britânicos sejam uma casta superior que deva ter preferência nessa vida, talvez seja isso. Mas, quem diz isso? Quem está dizendo é o senhor dos senhores, o “mestre dos magos” deste mundo, qual a maior parte dos humanos o reverencia e que chamamos carinhosamente de “Sr. dinheiro”, money ou como queira chamar.
 
Um pouco de ironia talvez possa nos ajudar a entender a gravidade desta crítica.
 
É importante rememorar que, na primeira e segunda guerra mundial o egoísmo também falava mais forte, incentivado e encorajado pelo poderio bélico que as nações entrincheiradas possuíam naquela ocasião, ostentado graça ao poderio econômico que detinham, que os legitimavam (pelo menos na cabeça dos líderes políticos) a exterminar todos os inimigos (auto)declarados que cruzasse seus projetos de poder. 
 
Agora, nesta TERCEIRA GUERRA MUNDIAL que enfrentamos, inadvertidamente, podemos pensar que o inimigo é invisível e até fiquemos tentados a chama-lo de COVID-19, contudo aos analisarmos mais uma vez, atentamente, veremos que os perigos são os mesmos das guerras anteriores, as condutas EGOÍSTAS.  Até o regente da guerra é o mesmo das anteriores, o dinheiro.
 
A COVID-19 não é causa, no máximo um estímulo para nossos males. 
 
O afago desta reflexão é saber, que nessa terceira guerra mundial não nos agruparemos com os Aliados e nem com as Potências do Eixo, somos na verdade Altos Comissários da ONU, promovedores da paz. Temos agora a oportunidade de pôr fim a esse horror. O poder está em nossas mãos! 
Somos competentes para fazermos uma onda estrondosa de generosidade, compaixão, indignação e humanismo. Podemos constranger aquelas minorias que detém o poder político e que estão cada vez mais com medo do poder popular, ainda mais em períodos eleitorais. 
 
Agora, caso isso seja uma utopia para você, por estar desacreditado da capacidade de sensibilização de alguns agentes públicos, não se preocupe, pois o bem que você faz, por si só, é capaz de transformar o seu mundo e o seu mundo transforma o mundo daqueles que estão próximos e isso já vale qualquer sacrifício.
 
 Promova conexões reais e verdadeiras, não se perca em conexões virtuais e frias do mundo telemático, elas no máximo são instrumentos mais nunca a causa para as conexões humanas. Conecte seus sentimentos e necessidade aos sentimentos e as necessidades daqueles que são seus conterrâneos de mundo, o ser humano, sem distinção. 
 
Já diria o carioca profeta gentiliza: Gentiliza gera gentileza! Com isso, ponha fim a guerra do egoísmo que está no seu quintal. Essa guerra você é capaz de encerrar e ninguém poderá lhe impedir de proclamar o seu próprio tratado da paz.